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sábado, 5 de dezembro de 2015

05 de Dezembro - Aniversário de Fritz Lang


Fritz Lang (1890/1976)

Impossível ignorar esta célebre data, quando há 125 atrás nascia o austríaco Fritz Lang. De estudante de pintura a escritor, produtor e diretor de cinema, suas obras ficaram registradas na história e nas mentes dos amantes do cinema.

ainda que se faça uma associação imediata com o clássico e icônico Metrópolis, Lang possui uma vasta filmografia, carregada da influência expressionista e cheia da dramaticidade teatral, com tomadas que refletem sua origem nas artes.

O blog BFI Filme Forever destaca uma seleção dos 10 essesciais de Fritz Lang, com indicações como M (1931), The Woman in the Window (1944) e While the City Sleeps (1956). http://www.bfi.org.uk/…/news-bfi/lists/fritz-lang-10-essent…


Comemorem o aniversário de Fritz Lang apreciando uma de suas obras. 
Emoticon wink


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

While The City Sleeps - 1956

While The City Sleeps - 1956
100 min - Estados Unidos
Drama | Filme Noir
Diretor: Fritz Lang
Estrelando: Dana Andrews, Rhonda Fleming, George Sanders

http://www.imdb.com/title/tt0049949/

A mídia está diante da morte do magnata Amos Kyne - gerente do conglomerado de mídia Kyne Enterprises - que provoca uma luta de poder entre seus executivos. Ao mesmo tempo, a cidade de Nova York enfrenta o medo diante de mulheres assassinadas por um serial killer conhecido como o assassino do batom, que assassina mulheres jovens, deixando sua mensagem na cena do crime escrita com batom.


O repórter Edward Mobley está diante da missão de descobrir o assassino para impedir que o império jornalístico caia nas mãos erradas, com a promessa de, caso desvendar o enigma antes da polícia, ser recompensado com o cargo de diretor executivo.


Edward Mobley é visto pela maioria como o verdadeiro cérebro da organização, embora ele não tenha nenhuma aspiração a cargos elevadosEm certo momento, Ed, que tem conexões com o departamento de polícia e tem seus próprios pensamentos quanto ao perfil psicológico do assassino, decide ajudar seu velho amigo, John Griffith, na solução dos caso. Em sua buscaos envolvidos não hesitarão em usar as mulheres em suas vidas - Nancy Liggett (noiva de Ed), Dorothy Kyne (esposa de Walter), e a colunista Mildred Donner - da maneira que puderem para alcançar seus objetivos e desvendar o enigma.


Tal envolvimento levará as vidas de Nancy e Dorothy ao perigo diante do assassino do batom. E, embora um dos três candidatos ao cargo de diretor-executivo ganha o concurso, o outro terá uma surpresa.


Este filme trata-se do último dirigido por Lang nos Estados Unidos, e muito do sentimento meio desiludido em relação à indústria cinematográfica americana parece estar impregnado no filme. Porém, não se pode desperdiçar a cena final onde a genialidade de Lang parece despontar, quando a repórter de televisão (Dana Andrews) decide perseguir o assassino por um túnel do metrô, uma cena que lembra a perseguição em The Third Man (O Terceiro Homem). Apenas do script estar preso ao tradicional final feliz americano, a cena da perseguição traz à tona o gênio de Lang e ainda reforça com maestria a característica sombria do noir, mesmo que tão breve quanto a passagem da cena.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

M - 1931

M - M, O Vampiro de Dusseldorf - 1931
117 min - Alemanha
Filme Noir | Thriller
Diretor: Fritz Lang

http://www.imdb.com/title/tt0022100/

No final da década de 20, um assassino de crianças aterroriza uma cidade alemã. A polícia sai a procura do infanticida, deixando as ruas repletas de tiras, ameaçando as atividades criminosas do submundo do crime. A bandidagem organiza-se e captura o assustado assassino, levando-o para um julgamento onde decidirão se o entrega a justiça ou o condena à morte. Primeiro filme sonoro de Fritz Lang e para muitos a sua obra máxima. O grande cineasta alemão encontrou no ator Peter Lorre a expressão perfeita para refletir realisticamente o medo, a demência, e a languidez do assassino Hans Beckert.

Tudo começa com um grupo de crianças brincando com  que envolve uma canção sobre um assassino de crianças no pátio de um prédio de apartamentos em Berlim, e surge em seguida Hans Beckert, um serial killer que ataca crianças. Beckert aparece brevemente até a segunda metade do filme, mostrando com maior frequência sua sombra ou o som de seu assobio.

Sua tática é fazer amizade com crianças, assobiando uma canção e levando-as a um passeio, a compra de um brinquedo, fazendo-se seu amigo. E ao conquistar sua confiança, os assassinatos acontecem, e Lang apresenta um detalhe como um brinquedo que pertencera à vítima e seu final fatal.

A perseguição implacável da polícia e de criminosos que são chamados para auxílio de tal caçada leva Beckert ao tribunal, onde será sentenciado, ainda que a imagem de mães desconsoladas levam ao desfecho da trama.


M é um filme primoroso e interessante desde sua pesquisa a concepção para o cinema, e pede uma introdução para que o leitor conheça o processo desde a questão de tratar-se de um fato real, que gerou uma minuciosa pesquisa da parte de Lang, o que originou um dos clássicos noir que destacou Peter Lorre no papel principal e mexeu com a sociedade do mundo devido ao relato de crimes arrepiantes e diversas crianças desaparecidas na Alemanha.

Origem:
A história de 'M' começou nos anos 20 quando o público alemão foi exposto a um número crescente de assassinatos em séri. Apesar de Fritz Lang sempre negar, Peter Kurten tornou-se a inspiração para o personagem do assassino em série do "Vampir von Düsseldorf '(o vampiro de Düsseldorf) em M '.

Kürten atacou brutalmente 41 pessoas, matando 9 delas. Sua prisão ocorreu em 24 de maio de 1930. Ele bebeu o sangue de algumas de suas vítimas, daí o apelido de vampiro de Düsseldorf. Antes de sua prisão, mais de 12.000 pessoas foram seguidas, mais de 200 pessoas se entregaram alegando ser o assassino e 300 médiuns e ocultistas ofereceram a sua ajuda. Kürten chegou a enviar 2 cartas para os jornais locais, levando o público ao estado de psicose em massa. Kürten foi o exemplo perfeito de um serial killer com aparência de um cidadão comum. Os sobreviventes e testemunhas o descreveram como bem vestido, simpático, incutindo confiança além de respeitável. Kürten foi executado 02 de julho de 1931, em Colônia.
Outra "coincidência" que faz a ligação entre o fato real e a aplicação no filme de Lang é que no início dos anos 1930 durante o auge da histeria em massa do departamento de polícia de Düsseldorf - agora também apoiado por um grupo de detetives da polícia de Berlim - publicou um boletim de 25 páginas especiais que chegou ao conhecimento de Lang. Esta edição especial da "Revista Kriminal" trouxe a publicação que descreveu a 'Düsseldorfer Massenmörder' (assassino em série de Düsseldorf: "Tudo em vão! O assassino ainda é desconhecido! Ele está entre nós!"). Curiosamente o título de trabalho para 'M' foi 'Mörder unter uns' (assassino entre nós).
Outras conexões entre 'M' e o artigo em 'Magazin Kriminal "incluiu a descrição detalhada do suspeito (incluindo o chapéu que foi um pouco de uma marca de Kürten), bem como os motivos assumidos e até mesmo cenas inteiras. Há inclusive diversas cenas durante o filme que aparecem descritas neste artigo, havendo ainda outra importante evidência, como as cartas escritas pelo assassino em lápis azul, que no filme aparece em vermelho.
Na vida real, a busca pelo assassino pela polícia de Düsseldorf leva-a ao ponto de pedir ao mundo do crime organizado para ajudar na caça ao assassinos, alegando estar prejudicando seus negócios, outro ponto utilizado no filme. Há ainda a semelhança do chefe de polícia e o personagem do inspetor com sua imagem do homem pesado pesado, sempre fumando seu charuto, relaxado e de métodos pouco ortodoxos.

Outras influências foram os casos de Haarmann, Denk e Großmann - todos os assassinos de destaque dos anos 20. Há ainda uma série de assassinatos horrendos envolvendo crianças na cidade de Breslau, um crime que nunca resolvido.

Todos esses acontecimentos demonstram a minuciosa pesquisa feita por Lang e Thea von Harbou, que estudaram os métodos da polícia e ainda reuniram-se com psiquistras de serial-killers para escrever um roteiro detalhado e o mais próximo da realidade.

O filme
O que M deixa como marca para o cinema e espectadores é a figura de Peter Lorre como o retrato do assassino psicopata, o que marcou sua carreira desde então. Outro importante detalhe é que trata-se do primeiro filme sonoro de Fritz Lang, empregando voz off e músicas que enfatizam as cenas do perigoso assassino e sua loucura crescente, trabalhando o som em sua primeira experiência com impressionante profissionalismo.

Retorno da crítica
"A grande noite que terminou com aplausos entusiasmados para o filme e seus criadores! - Filmwelt

'Cinematograficamente deslumbrante...O desempenho de Lorre é inesquecível. "Filme Leonard Maltin e Video Guide -

"Este fascinante drama alemão por Fritz Lang...se desenrola em um cenário expressionista de tirar o fôlego com sombras e desordem, uma atmosfera de predestinação que parece estar se aproximando do vilão apavorado que Lorre representa. M é uma parte importante do passado do cinema... (Lang finalmente trouxe sua influência diretamente para o cinema americano em filmes como asFury, Eles Clash by Night e The Big Heat.) M não deve ser desperdiçado. "- Tom Keogh

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aniversário de Fritz Lang



Viena - Áustria, 05 de Dezembro de 1890 / Los Angeles, 02 de Agosto de 1976

Hoje é dia de lembrarmos do grande cineasta, realizador, argumentista e produtor Fritz Lang, ou Friedrich Anton Christian Lang.

Considerado um dos maiores nomes da escola expressionista alemã, iniciou seus primeiros escritos - em especial terror e suspense - em plena Primeira Guerra Mundial, ao ser gravemente ferido, perdendo um olho, onde aproveitou sua estada em recuperação no hospital para desenvolver textos que mais tarde o levariam ao convite de fazer filmes.

Com o fim da guerra, mudou-se para Berlim para trabalhar com o produtor Erich Pommer. Em 1919, foi lançado o filme "O Gabinete do Dr. Caligari", de Robert Wiene, cujo roteiro foi parcialmente escrito por Lang.Nos anos de 1919 e 1920, Lang lançou uma série de filmes que o tornaram conhecido, e esta é a época em que dá início ao expressionismo alemão, com uma estética que dá vazão às reações subjetivas, criadas por objetos e cenários de grande intensidade visual, explorando as distorções e o uso do preto-e-branco.
Entre os títulos mais conhecidos da fase expressionista, encontramos:

  • Der Müde Tod (1921) - variação onírica sobre a morte e o amor, em que o exotismo se alia com a meditação sobre o sentido da vida e da morte;


  • Dr. Mabuse, der Spieler (1922) - o primeiro noir, uma obra construída sob a influência das descobertas da psicanálise e dos estudos da esquizofrenia;


  • Die Nibelungen (1924) - um filme sobre o fantástico mitológico, com estruturas admiravelmente equilibradas;


  • Metropolis (1927) - obra sobre a relação entre as máquinas e os trabalhadores nas grandes cidades, com ênfase pro sentimento de humanidade perdido no processo. Um de seus maiores trabalhos; (Este filme aliás, que se passa em 2026, estreou como o primeiro filme de ficção científica da história do cinema.).



  • Spione (1928) - a luta contra uma organização misteriosa e implacável;

  • M (1931) - uma das obras mais lendárias e um dos expoentes máximos da sua carreira.


  • Convidado por Hitler para fazer filmes para o Partido Nazista, fruto da admiração que lhe provocou Metrópolis, Lang nega-se e foge para Paris produzindo filmes antinazistas; em 1934, emigra para os Estados Unidos, mas inicialmente a crítica entende que este encontra-se subjugado ao sistema do cinema norte americano, produzindo filmes por demais comerciais, reconhecendo a qualidade de seu trabalho somente nos anos 50. Nesta fase é que outros títulos passam a receber importância no cenário cinematográfico:
    • Fury (1936) - onde transpunha o ambiente de M para os Estados Unidos;
    • You Only Live Once (1937) - que confere ao filme negro a dimensão das grandes tragédias e onde toma o partido dos culpados, vítimas dos erros da sociedade;
    • Man Hunt (1941), Hangmen Also Die (1943) e Ministry of Fear (1944) - constituem libelos anti-nazistas, onde o prazer de aniquilar se sobrepõe à instância sócio-política;
    • Scarlet Street e The Woman in the Window (ambos de 1945) - são, para o próprio Lang, os seus melhores filmes americanos.
    • Rancho Notorious (1952) e Moonfleet (1955) - retomam o exotismo aventuroso nos limites da paixão do poder.
    • The Big Heat (1953), While the City Sleeps e Beyond a Reasonable Doubt (ambos de 1956) - são as suas máximas reflexões sobre o destino.
    Lang ainda volta para a Alemanha, faz alguns filmes e chega inclusive a atuar, e preside em 1964 o Festival de Cannes.

    Particularmente, me delicio com o trabalho deste diretor. A profundidade dos temas, as cenas bem estruturadas e carregadas de significado, a direção meticulosa na fotografia, quer enfatizando as expressões ou mesmo depositando o clima carregado pelos enfoques expressionistas presentes em seus filmes, demonstra o cuidado em expressar o lado sombrio da humanidade de forma brilhante. É por isso que parabenizamos neste dia este brilhante e respeitável diretor.

    Abaixo, um vídeo com entrevista de 1975 com este grande diretor e um dos maiores criadores da história do cinema.

    quinta-feira, 3 de novembro de 2011

    The Woman in the Window - 1944

    The Woman in the Window - 1944
    (Um retrato de mulher)
    107 min - EUA
    Crime | Filme Noir | Mistério
    Diretor: Fritz Lang
    Atores: Edward C Robinson, Joan Bennett, Raymond Massey


    http://www.imdb.com/title/tt0037469/


    Baseado na obra de J. H. Wallis, Fritz Lang conta a história de umm pacato professor de psicologia e senhor respeitado com uma bela família de mulher e 2 filhos, Richard Wanley despede-se dos mesmos logo no início do filme enquanto os vê saindo de férias, ficando este sozinho em sua bela e aconchegante residência.




    Passando pela vitrine de uma galeria de artes, fica maravilhado com a pintura de uma bela mulher, e logo na mesma noite que resolve dar uma volta pelas ruas, apreciando novamente o quadro vê projetada a imagem da musa que serviu de modelo para o mesmo, como se fosse uma aparição. Após uma conversa para se conhecerem, decidem ir a um bar e tomar alguns drinques juntos.





    No retorno, ela o convida até sua casa, tão bem apanhada quanto a do professor, onde este aprecia algumas obras dispostas pela sala. Eles bebem juntos por mais um tempo, apreciando as obras que lhes parece do gosto de ambos, até que, em meio a forte chuva que cai pela noite, surge um homem, suposto ex-amante de Alice,  que quer explicações e lança a violência para ambos os presentes, resultando em um assassinato desferido por Wanley com uma tesoura. Está traçada a trama e o drama que ambos viverão daí em diante.










    Wanley decide por esconder o corpo na calada da noite e salvar ambos da culpa, sem saber da importância que este homem tem - o que verá a partir dos pertences reunidos por Alice sem inicialmente dar-se conta. É o tipo do "criminoso" ingênuo que machuca-se enquanto joga o corpo em um caminho deserto e nem consegue livrar-se do chapéu que fica em seu carro.




    A culpa e ansiedade se intensifica quando a rádio comenta o mistério em torno do desaparecimento do homem em questão, até que escoteiros encontram o corpo no local em que foi abandonado.




    Ambos desconhecem ainda que o homem morto tem um guarda-costas criminoso que irá aproveitar-se da situação, chantageando-os a fim de que não os entregue à polícia. Aliás, este parece um verdadeiro detetive, ao vasculhar e reunir provas pelo apartamento de Alice, enquanto a deixa ciente de que sabe sobre o assassinato e sabe como incriminá-los. A chantagem intensifica-se a cada nova investida, e a mulher já não sabe que armas dispor ou que atitude tomar.



    Percebe-se como traços do noir o clima sombrio que se instala com o crime cometido, bem como a ambiguidade moral que se revela em todos os personagens, desde o respeitável professor que imediatamente ao estar sem a família permite-se estar com uma desconhecida mesmo sem revelar qualquer traço de promiscuidade explícita e parece dispor-se a atos vis enquanto tenta livrar-se da culpa; Alice que seduz o desconhecido a sua casa e parece não chocar-se com a violência ou morte do ex-amante em seu próprio apartamento, e ainda o chantagista que usará todos os recursos para conseguir o prêmio desejado, evidentemente incessante até onde puder tirar dos culpados.


    Fritz Lang como sempre faz crescer a ansiedade em cada novo fato adicionado às discussões nos encontros do professor com seus amigos, onde este mantém-se a par de tudo como se desconhecesse o fato. Os diálogos parecem atormentar cada vez mais o envolvido, em especial quando falam sobre o envolvimento de uma mulher, suposta amante do morto. A expressão de Wanley toma cada vez mais uma expressão desesperada, como algo em que se meteu e parece não encontrar forma de distanciar-se.


    A famosa frase do professor Richard Wanley a Alice quando esta conta-lhe sobre a chantagem e o que devem fazer a respeito, é lembrada com frequência quando citado o filme, onde este menciona as três formas de lidar com um chantagista: "Você pode pagar, pagar e pagar até ficar sem nada. Ou então chamar a polícia e deixar seu segredo ficar conhecido pelo mundo todo. Ou então você pode matá-lo."



    Ao contrário do padrão noir em não apresentar escapatória ou esperança aos envolvidos em tramas dessa natureza, há uma espécie de distorção dos fatos que levarão as autoridades a entender a culpa ao chantagista, numa reviravolta não claramente explicada mas que parece resolver toda a situação.


    Em dado momento, Wanley parece ter passado por um devaneio, uma grande alucinação, tornando o filme ainda mais intrigante.

    No YouTube você poderá assistir ao filme dividido em 14 partes. Trata-se de um elenco primoroso, uma trama intensa e bem trabalhada, digna de ser considerada um clássico noir.
    Eu diria que este é um dos imperdíveis do gênero, e que Lang mais uma vez apresenta sua 
    genialidade nesta grande produção.


    domingo, 17 de abril de 2011

    You Only Live Once (Só se vive uma vez - 1937)


    You Only Live Once (1937)
    86 min - USA
    Crime | Drama | Film-Noir
    Fritz Lang

    http://www.imdb.com/title/tt0029808/

    Logo após escrever sobre Sombras do Mal, em que o foco temático está nos seres que sobrevivem a custa de trapaças, pois ao que parece, é o que lhes resta como saída ou já acostumaram-se a situação, acabo de assistir a mais um trabalho de Fritz Lang que mostra um tema semelhante, desta vez a respeito de um ex-presidiário que mesmo tentando mudar suas condições de vida, as portas parecem sempre fechar-se ao ponto de não haver saída para sua regeneração.

    Taylor (Henry Fonda) é um ex-presidiário que já passou 3 vezes pela prisão e um retorno representa o caminho para a cadeira elétrica.

    Ao cumprir seu tempo de clausura, sai acompanhado da apaixonada Jo, uma secretária de um advogado de defesa que a ajuda a libertar o namorado. Jo é a única que acredita na inocência de Taylor e que a vida sempre pregou-lhe peças que o impedem de ter uma vida decente.


    Ocorre porém que mesmo saindo da prisão com emprego e tornando-se um homem casado e com novos compromissos, os fatos voltam-se contra ele quando de um assalto a banco que a culpa lhe é atribuída, levando-o de volta à prisão, à beira de ser morto, mesmo alegando ser inocente.





    Ao conseguir fugir com a ajuda de Jo, estes veem-se fugindo constantemente, vivendo na penúria e sendo procurados por toda parte. O final é trágico, porém é como se fosse a única redenção e possibilidade de liberdade para Taylor.


    Fritz Lang dirigiu um filme que questiona a falta de condições para muitos que vivem à margem da sociedade e como o preconceito e a não disposição no auxílio de oferecer uma segunda chance impede qualquer esperança, mesmo que haja boas intenções.



    A fotografia é impressionante em muitas passagens, como a abertura na prisão, com uma filmagem em câmera baixa avoluma os grandes muros que "cercam" os prisioneiros muito abaixo destes. Lembrou cenas de Metropolis com toda a força do complexo de grandes paredes, acuando o humano.
    A imagem mais acima de Taylor na cela onde as luzes atravessam as grades projetamdo-se no chão, domina toda a cena. Lembra-me a cena em Sin City de Hartigan na solitária e ainda enfatiza o alto contraste presente na técnica corrente do Noir.


    You Only Live Once é um filme com final fatal mas a fatalidade como esperança ou meio de algo que não há por onde escapar.

    sábado, 16 de abril de 2011

    Metropolis (Fritz Lang - 1927)

    Metropolis (1927)
    153 min - Sci-Fi - (USA)
    Fritz Lang

    http://www.imdb.com/title/tt0017136/


    Hoje, após alguns dias distante devido a um problema ainda não descoberto entre meu computador e o blog, testei vias diferentes da entrada normal pelo endereço original e cá estou para escrever sobre mais uma obra-prima, ou melhor, a grande obra a meu ver, do expressionismo alemão.

    Estamos falando nada menos que Metropolis, mais uma vez de nosso já conhecido e citado Fritz Lang. Metropolis seria uma das 6 grandes obras de sua fase expressionista, considerados grandes expoentes do estilo.

    Metropolis, século XXI. No Jardim dos Prazeres vivem os filhos dos abastados, desfrutando do melhor, distante da realidade externa que sustenta tal utopia, onde operários vivem em regime de escravidão, trabalhando abaixo da superfície, na Cidade dos Operários.



    Freder, filho do fundador de Metropolis, ainda desfrutando do Jardim dos Prazeres, sente-se confuso após conhecer Maria, uma espécie de líder espiritual dos operários, que cuida dos filhos dos escravos e prega a não violência diante dos maus tratos. Nesse momento, Freder percebe que há algo além da realidade que lhe é apresentada e vai constatar por si mesmo a dura realidade, ficando horrorizado com a condição dos trabalhadores que por horas a fio mantém as máquinas em constante movimento, para manter a cidade em pleno funcionamento.


    Essa passagem fez-me lembrar da versão romanceada mas com alguns detalhes interessantes do filme sobre o Buda (um filme em que Keanu Reaves protagoniza o personagem), que era um príncipe vivendo numa espécie de Eden construído pelo pai a fim de que este desfrutasse de todos os prazeres sem deparar-se com a realidade, e só quando este resolve fugir do palácio e enxergar de perto como vive o seu povo é que tornar-se-á um homem consciente da realidade da vida, tomando um rumo definido por sua escolha.

    Em paralelo, para resolver a questão do cansaço humano que dificulta o funcionamento constante da máquina urbana, um “cientista” cria um robô supostamente infalível para substituir o contingente operário, e fica decidido que sua aparência será a de Maria pela influência que esta tem sobre seus trabalhadores.


    Notem o arquétipo de Maria. Maria, que prega que um Salvador virá para salvar os pobres escravos. O nome da mãe do Salvador cristão, com toda benevolência e misericórdia pelos menos favorecidos. Mas a mulher neste filme se apresenta em diversas faces, como veremos a seguir.

    O robô é uma mulher sedutora entre a burguesia e surge entre os trabalhadores para gerar a discórdia, com um discurso que incita a vingança e a violência, enquanto Maria é mantida aprisionada pelo cientista.



    Vemos então a mulher bondosa, uma espécie de "femme fatale" traiçoeira e malígna - retrato que mais tarde representará a mulher no Noir mas aqui revela ainda o sentido nocivo da máquina preparada em mãos ambiciosas como a do cientista que promove algo para destruir o humano, substituindo-o.

    Metropolis demonstra uma preocupação crítica com a mecanização industrial urbana, questionando a importância do sentimento humano, perdido no processo. Como pano de fundo, a valorização da tecnologia e a arquitetura. A cena inicial da troca de turno dos operários, onde estes entram juntos de cabeça baixa, e em um plano geral vê-se as grandes colunas e paredes muito amplas, estas parecem dominá-los e consumí-los. O movimento das engrenagens filmadas em closes fechados, intensificam a velocidade e a força que a máquina representa.





    O final remete à conclusão de que "O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!"  e se concretiza no simbólico aperto de mão mediado por Freder entre Grot (líder dos trabalhadores) e Jon Fredersen - o empresário.

    Metrópolis impressiona e angustia desde as cenas iniciais, onde os operários alinham-se em fila para a troca do turno. São autômatos, sem vida ou identidade própria, com suas vestes idênticas e a desesperança expressa em suas faces. É um mundo vazio, encoberto pela falta de ar e luz natural e envolvido pela fumaça das máquinas.


    Predominam as cenas de forte expressão visual - característica do expressionismo - como a panorâmica da cidade com os seus veículos voadores e passagens suspensas. Alusões bíblicas, mistério, ação e romance, completam o leque que envolve o público e o mantém em suspense até ao final.

    A fotografia é densa e dramática, intensificada pelo alto contraste, junto a trilha sonora que colabora para envolver o espectador no drama dos personagens.

    Relutei muito antes de escrever sobre este filme, que considero o maior clássico do expressionismo que tive o prazer de conhecer. A obra é de uma força e fala por si, e qualquer palavra não a descreve em todo o seu merecimento.

    Recomendo que assistam ao filme e vejam mais um clássico que o mestre Fritz Lang nos deixou, tema muito atual para refletir sobre a sociedade em que vivemos e os rumos que seguimos sem descanso.

    No YouTube pode-se encontrar o filme na íntegra, ainda que dividido em partes, disponível para assistir no site.