Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
Participe para saber mais e envie a sua colaboração. Após análise, publico com crédito do experimentador.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Estética Noir


Após decrever as influências que permitiram o surgimento do gênero tema deste blog, falemos agora sobre a estética:

A diversidade de influências no Noir apresenta-se num complexo conjunto de elementos caracterizando sua estética.

Na fotografia predomina o preto e branco e alto contraste, com sombras profundas e iluminação dirigida cuidadosamente, conferindo o clima obscuro com maior dramaticidade às cenas, contribuindo para a construção do suspense.


Quando desceram as trevas (Ministry of Fear, Fritz Lang - 1944)

Os ângulos não convencionais e a câmera subjetiva levam o espectador a ver com os olhos do personagem. Por meio de ploungés e contra-ploungés a câmera filma acima ou abaixo do personagem, atribuindo-lhe situação inferior ou superior, acuado ou dominante ou ainda opressor.


Side Street (Anthony Mann - 1950)

As fontes isoladas de luz, profundidade de campo e locações naturais criam um clima entre o sonho e a realidade, perturbando e desnorteando o espectador para que sinta o mal-estar do personagem. Os closes muito próximos exploram a angústia do personagem e os big close-ups ou tomada geral representam o sentimento de tristeza e desolação nas histórias.


Sin City (Frank Miller, Robert Rodriguez - 2005)


A Marca da Maldade - Touch of Evil (Orson Welles - 1958)


Sombras do Mal (Night and City, Jules Dassin - 1950)

O uso de espelhos e janelas (ou persianas) provocam a ideia do quadro dentro do quadro, causando a sensação de claustrofobia. Sugere ainda a ligação da realidade e os sonhos, pesadelos, medos e ilusões dos personagens, além de mostrar a ambiguidade pela dualidade ou desespero. A sobreposição sobre o rosto do personagem de suas sombras e linhas parece distinguí-lo dos demais elementos da cena, como se este estivesse confinado a situação de perigo, quebra de conduta ou morte.


A Dama de Shangai (The Lady from Shanghai, Orson Welles - 1947)


Pacto de Sangue (Double Indemnity - Billy Wilder) - 1944.

A paisagem urbana com predomínio de cenas noturnas é o cenário da ação, revela os personagens e fornece a atmosfera geralmente perturbadora.

A fumaça é outro elemento que colabora com a sensação de perturbação, pois a associação da névoa com as cidades, ambientadas na maioria durante a noite em ruas e becos escuros, simbolizando os perigos da vida urbana, intensificam o mistério nas cenas. A fumaça refere-se ainda aos personagens, quando da representação da masculinidade ou sensualidade feminina, traços constantes pela presença corrente do personagem fumando nas cenas.


Side Street (Anthony Mann - 1950)


Rajada de Morte - The Big Combo (Joseph H. Lewis - 1955)

A narrativa ocorre em geral em flashback e primeira pessoa, com voz off descrevendo o passado e conduzindo o espectador ao trauma do personagem. A trilha sonora e os ruídos criam ainda o clima sugerido pela cena.

Há três arquétipos principais presentes no Noir: o que procura a verdade, não necessariamente um homem da lei, o perseguido, originário do existencialismo e fatalismo que pode levá-lo a atos criminosos e a femme fatale, visão da mulher como ameaça de concorrência no mercado de trabalho na Segunda Guerra, gerando um clima de desconfiança e impotência à sociedade patriarcal, relacionando o feminino a traições, ambição, promiscuidade sexual e persuasão do homem pela sedução para o crime.


Lana Turner - The Postman Always Rings Twice (1946).

Os temas pautam-se no pessimismo e personagens presos ao destino sem esperança de redenção. Crime, assassinato, traição, ciúmes, corrupção e fatalismo são temas correntes. O passado sombrio e o pesadelo fatalista, aspectos do existencialismo e a psicologia freudiana, afirmam o absurdo da existência e a importância do individualismo. O passado é o pesadelo ameaçador onde não há como escapar do desfecho fatal.


O Falcão Maltês - The Maltese Falcon (John Huston - 1941)


Pacto de Sangue - Double Indemnity (Billy Wilder - 1944)

Segundo o crítico de cinema Paul Schrader, “um filme Noir usa técnicas que enfatizam perda, nostalgia, lacunas e insegurança”, e mais tomadas com cenas noturnas e roteiros onde o suspense prevaleça”. (“Notes on Film Noir” - 1972).


Para Maximo Barrio, profissional de cinema e responsável pela filmoteca da FAAP, “não é o tema do Noir que o caracteriza”, ainda que cinismo, traição, dúvida, sejam uma forma de crítica à sociedade vigente. “Esses temas de violência e crime vem do Protestantismo alemão e americano que é por si mesmo pessimista, daí o retrato do final fatalista em sua maioria.”

Influências do filme Noir

Venho escrevendo sobre os filmes, mencionando pequenos dados sobre de onde vieram certas características do Noir, mas até o momento não descrevi com mais detalhes a respeito.

Hoje transcrevo brevemente minha pesquisa. Leitores e apreciadores do Noir, corrijam e/ou acrescentem informações a este material. Com certeza, irá contribuir para melhorar nosso conhecimento e dos que querem conhecer.

Influências do Noir

“as ruas escuras, molhadas na madrugada, um quarto intermitentemente iluminado pelos lampejos de um letreiro luminoso, um homem aguardando o momento de matar ou de ser morto...” (Hollywood in the Forties, Black Cinema, Charles Higmam e Joel Greenberg,1968).


A estética Noir tem suas origens nos folhetins, no neorrealismo italiano, no realismo poético francês e no expressionismo alemão, além das narrativas pulps, e os filmes de gângsters dos anos 30. Parte dessa influência advém da chegada de imigrantes europeus fugidos da Guerra que trazem a técnica cinematográfica de seus países de origem e o sentimento da moral abalada e amargurada, além da Grande Depressão que desestabilizou a sociedade americana.


Na literatura, as Pulp Magazines (1896 a 1950), publicações baratas de ficção policial que originaram a escola hard boiled com histórias de detetives, em geral apresentam o anti-herói com vícios e linguagem rude, envolvido em trama confusa e personagens duvidosos. As obras naturalistas contribuiram para uma prosa cortante e diálogos mordazes. Entre os escritores que destacaram-se neste tipo de literatura e influenciaram o gênero podemos citar Dashiell Hammett, Raymond Chandler e James M. Cain, entre outros. (Mais detalhes no post sobre Pulp Magazines).


O Expressionismo alemão dos anos 20 inspirou a visão sombria da década de 40,
- principalmente por meio da iluminação e do ponto-de-vista subjetivo e psicológico - além do existencialismo e da psicologia de Freud, onde os personagens apresentam-se em aflição e envolvidos no pesadelo de suas neuroses. As características mais importantes do expressionismo são a iluminação em alto contraste claro-escuro com sombras pintadas, oponto de vista subjetivo e psicológico, o pessimismo, a interpretação exagerada, o clima de loucura e pesadelo, maquiagem carregada e os cenários com perspectivas retorcidas (este último muito destacado em O Gabinete do Dr. Caligari, de 1920).


Nosferatu (F.W. Murnau - 1922)

Os filmes de gângster, o realismo poético e o neorrealismo trouxeram elementos como crime, violência e ambiente urbano, o sentimento pessimista e a revelação dos fatos de acordo com a realidade. (Cada um será em breve descrito com maior detalhamento).


Scarface (Howard Hawks, Richard Rosson - 1932)

terça-feira, 22 de março de 2011

Vídeo - crítica sobre Touch of Evil

E pra finalizar os comentários sobre o brilhante Touch os Evil, há no YouTube um vídeo
onde Gabe Johnson fala a respeito do filme. Em inglês.


Cartazes - Touch of Evil (A Marca da Maldade - 1958)

Mais que o predomínio da ilustração nos cartazes de Touch of Evil, notem a constância do tema da mulher indefesa, acuada, aterrorizada ou protegida por seu fiel e honesto marido. Talvez um chamariz para chamar os espectadores para o cinema, a fim de presenciar uma linda cena de amor em meio a violência presente quase na totalidade do filme. Um vislumbre de final feliz em meio ao ambiente sombrio e fatalista do Noir, quem sabe?...

O cartaz que utiliza a fotografia e que parece mais recente, talvez uma cópia remasterizada?!, foca mais na figura do Capitão Hank Quilan, lembrando muito Norman Desmond nos cartazes de Crepúsculo dos Deuses, como uma ameaça sobre as cabeças dos amantes, prestes a destruí-los.








A Marca da Maldade (Touch of Evil - 1958)

Touch of Evil
EUA - 1958
Crime - Filme Noir - Triller
95 min
Orson Welles


A Marca da Maldade, de Orson Welles, é considerado o último grande filme Noir do período clássico - década de 40 a 50 -, segundo os puristas, e o tema concentra-se no comportamento humano e suas tendências diante das situações vividas.



O filme é relembrado em especial pela cena de abertura em plano sequência de uma bomba acionada no porta-malas de um veículo que partirá da fronteira americana ao México e após a explosão, policiais de ambas as partes investigam o caso mas discordam sobre a forma como atuam. Nele presenciamos a cena urbana, a profundidade de campo ampliando a visão geral do espectador e o close na bomba que desencadeia a trama, num ritmo contínuo que causa ansiedade quanto ao desfecho da situação.

Há quem afirme que uma das razões que levou Orson Welles a pensar neste longo plano sequência sem interrupções, deve-se à economia do curto orçamento além do pouco tempo disponível para as filmagens, situação muito comum nos filmes B e no filme Noir, mas que neste caso parece ter colaborado com a genialidade do diretor em questão.

O blog Obvious - um olhar mais demorado, faz uma interessante observação a respeito da técnica utilizada no plano sequência, que transcrevo abaixo (você poderá ler a matéria na íntegra no link http://obviousmag.org/archives/2007/05/touch_of_evil_a.html:

"...são utilizadas diversas técnicas mas,...a mais marcante será, talvez, a obtenção de uma longa cena efectuada com uma única filmagem sem interrupções. Diz-se que esta técnica é um exercício narcisista que, no limite, serve para o próprio realizador passar uma afirmação do seu talento.

Esta técnica extremamente complexa, envolve manobras de câmara muito extensas que necessitam de uma grande planificação e maestria de execução, exigindo ao realizador uma grande capacidade de articulação de todo um conjunto de eventos das outras disciplinas...

No entanto, quando é necessário envolver movimentos complicados que, por exemplo, envolvam diferentes condições de iluminação e focagem, a dificuldade desta técnica vem de cima. Assim, a primeira cena universalmente aceite como das mais longas, efectuada sem qualquer corte e em condições extremamente complexas, foi a fantástica abertura do filme "Touch of Evil", realizado em 1958 com a excepcional mestria de Orson Welles.

A cena começa com a colocação de uma bomba na mala de um carro. A partir desse ponto, a câmara segue o carro através de diversos movimentos para acompanhar a acção que se vai desenrolando numa rua com cada vez mais figurantes e objectos. Um crescente de suspense começa a ter lugar na cabeça do espectador que se pergunta em que instante a bomba irá explodir, sendo esse momento acentuado com o contínuo da acção sem qualquer interrupção. É absolutamente impressionante a mestria e o talento de Welles. "

As características do Noir - cenas noturnas em ambientes degradados, fotografia escura com alto contraste, crime, investigações, personagens imorais e corruptos - fazem parte da obra, mas o contraste de personalidades e conduta moral, como o detetive alcoólatra que vive a dor do assassinato da esposa sem a captura do culpado, tornando-se amargo e corrupto para garantir que nenhum outro caso termine sem punição, e no outro extremo o policial honesto e inconformado com as injustiças que percebe durante a investigação, demonstram os princípios humanos apresentados por Welles de forma imparcial, pela premissa de que certo e errado são relativos pela dualidade do ser, tal como descreve Nietzsche em Além do Bem e do Mal, ou ainda, que ninguém pode ser classificado superficialmente dentro de um destes princípios, pois devido à complexidade do ser humano, bem como suas escolhas e as características da sociedade em que vive, todos agem de acordo com a situação em que se encontram, tanto física quanto psicologicamente.


Vargas e o Captão Hank Quinlan, os "homens da lei" em Touch of Evil.




O filme é repleto de cenas violentas e os personagens parecem sair do submundo, sem escrúpulos ou moral, quer tratando-se de bandidos ou homens da lei, exceto pela figura de Vargas (Charlton Heston), o policial ou detetive que busca a verdade e quer punir o policial corrupto, evitando maiores injustiças como as que presencia durante as investigações que iniciam o filme.



Orson Welles, na figura do enorme e taciturno Capitão Quinlan, é toda a desesperança, tornando-o um homem amargo e disposto a todo tipo de artimanha e violência que garanta a prisão ou morte dos suspeitos, sem importar que a verdadeira justiça seja feita de fato, mas trata-se de uma vingança pessoal aplicada a todos os supostos suspeitos ou inconvenientes que passam por seu caminho.





Na sequência final, a perseguição entre os detetives é feita com inclinações diagonais de câmera, parecendo relacionar-se com o estado emocional dos personagens até o desfecho fatal com a morte do detetive fora da lei.



Sobre as mulheres que compõem a trama, vale lembrar a atuação de Janet Leigh, muito conhecida por protagonizar Psicose e em boa forma como a esposa do honesto Vargas, por vezes desafiando as ameaças recebidas para intimidar o marido, ou aflita e acuada quando de sua captura, a fim de ameaçar a boa conduta do policial.


Marlene Dietrich aparece em poucas cenas, porém é inesquecível, prevendo o futuro do desiludido Capitão Hank Quinlan.



Em Touch of Evil, Orson Welles desafiou todos os padrões levantando questões de imoralidade, preconceito - o jovem Vargas não é muito respeitado por ser um "mestiço" além de acompanhado por uma bela loira - a questão das drogas quando da tentativa de incriminação de Susie Vargas, além da falta de escrúpulos e alta violência em meio a homens que representam a lei e a ordem.

A crueza dos fatos, a dureza nos diálogos, o clima pesado e pessimista dos acontecimentos são os temperos em meio a uma fotografia muito bem tratada, cenas detalhadamente construídas, envolvendo o espectador em uma obra prima que merece ser considerada um marco, mesmo que final da época clássica do filme Noir. Trata-se de um filme obrigatório para quem gosta de cinema e imprescindível para quem aprecia o Noir.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Série Noire - 1945


"Que o leitor desinformado seja cauteloso: os volumes da" série negra "não podem ser colocados com segurança nas mãos de qualquer um. O amante de Sherlock Holmes não se identificará com ela. Nem o otimista ou o sistemático. A imoralidade em geral admitida nessas obras servem apenas como um contraponto à moral convencional... A mente é raramente conformista. Vemos a polícia mais corrupta do que os criminosos que perseguem. Detetive amigável nem sempre resolve o mistério. Às vezes não há mistério. E, às vezes, nem detetive. Mas então ...? Enquanto permanece a ação, a ansiedade, a violência - em todas as suas formas e em particular o mais odiado - os espancamentos e assassinatos... Há também o amor - de preferência bestial - a paixão desmedida, o ódio... Em suma, nosso objetivo é simples: para impedir que você durma".
(Marcel Duhamel, 1948).


Vemos acima uma breve mas clara descrição do que seria a publicação que influenciou não só o termo Noir como também sua temática muitas vezes dura, violenta e amoral.

Série Noire foi uma publicação de origem francesa da Editora Gallimard, fundada em 1945 por Marcel Duhamel, lançando romances de suspense policial, em geral com detetives durões como protagonistas.

A maior parte de sua coleção constitui-se de escritores da literatura anglo-americana, como Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Horace McCoy, William R, Burnett, Ed McBain, Chester Himes, Cameron Lou, Jim Thompsonm Rene Brabazin Raymond e Peter Cheney.

No site da Gallimard - link de referência no final deste post - há a explicação completa do que foi esta publicação. Tentarei traduzir o melhor possível para que os leitores conheçam mais esta influência da literatura no gênero Noir:

Paris, 1944. Os Aliados acabam de invadir a Normandia e a cidade está em vantagem quando Marcel Duhamel, tradutor de Steinbeck ou Hemingway (entre outros) e agente da Gallimard, sai com três livros: Este homem é perigoso, de Marcel Achard, Poison Ivy de Peter Cheyney, e Não perca orquídeas para acariciar, de James Hadley Chase... Um ano depois, em setembro de 1945, o público francês descobriu uma nova série através de seus dois primeiros títulos, La Môme vert-de-gris (título francês da Poison Ivy), e Este homem é perigoso, ambos thrillers de Cheyney: o "Black Series" nasceu e ninguém duvida que sessenta anos depois, mais de 2600 livros assombra as noites de centenas de milhares de leitores.

Inicialmente, a editora nas mãos de Marcel Duhamel publica apenas seis títulos no "Black Series" em três anos, apesar do entusiasmo crescente. A França do pós-guerra apaixona-se por esses romances americanos e o novo tipo de filme bruto e negro, vindo de Hollywood.

Em 1948, sob a liderança de Claude Gallimard, Marcel Duhamel, finalmente, encontra-se com uma coleção de livros de borda amarela e preta, em torno de 20 a 30 mil cópias, dois livros por mês e a tradução de autores de primeira ordem (a começar por Chandler) ... O "Black Series" é uma grande máquina a distribuir os livros pretos...e o trabalho duro se inicia.


A história de detetive popularizada pelo "Black Series" fala a linguagem dos bandidos de rua. Mortos (Fast One, publicado em 1949), do californiano Paul Cain, faca violenta pintando o mundo de bandidos e os políticos da Costa Oeste nos anos trinta, por si só representa o modelo do tipo de novelas "hard-boiled" que Marcel Duhamel desenvolve em sua coleção. Especialmente porque, do outro lado do Atlântico, sob a influência dos "gigantes" da presente época (Raymond Chandler, Horace McCoy, Don Tracy, William Riley Burnett ou Dashiell Hammett), toda uma nova geração de jovens autores já mergulhou sua pena em pó e mercurocromo ... Logo, alguns deles ultrapassam o thriller padrão e esboçam o roteiro original, cuja influência sobre toda a literatura da segunda parte do século (até hoje) será considerável.

Até o início dos anos cinquenta, Marcel Duhamel possui uma centena de manuscritos por mês para classificar o grão (obras de arte pura) do joio (uma produção americana conhecida por "pulp fiction"). Nos anos que se seguem, o público francês encontra novos escritores como Jim Thompson, Kenneth Millar, o taciturno David Goodis, o prolífico Carter Brown, o delírio de Donald Westlake, tomando gradualmente o lugar dos primeiros clássicos.

A história de um ex-presidiário americano exilado em Paris que, em 1958, surpreende todas as regras do thriller com Chester Himes, em sua publicação A Rainha de Copas, dá a "Black Series" uma nova linhagem tornando-a uma verdadeira instituição.

Se a "série negra" rapidamente se tornou a referência do novo thriller dos EUA e estreia com os melhores representantes do gênero, os autores franceses não ficam de fora dessa revolução literária. Em 1948, sob o pseudônimo anglo-saxão Terry Stewart, Serge Arcouet torna-se o primeiro do "cenário local." Ele aparece rapidamente como um campeão de vendas da coleção, seguido por nomes como John Amila, Ange Bastiani, Auguste Le Breton, Antoine-Louis Dominique e Pierre Lesou, formando uma longa série de escritores franceses.

Agora, junto com uma produção americana em perpétua renovação, os franceses farão um trabalho de ficção de rara riqueza, falando de tendências e crises da sociedade francesa por volta de 68, invadindo rapidamente o catálogo de "Black Series", colocando-a mais uma vez no centro da criação literária.

Com a morte de Marcel Duhamel, em 1977, seu sucessor, Robert Soulat, ao lado de grandes novas assinaturas, acentua ainda mais o foco em escritores "terroir", como jovens revoltados. Uma nova geração muito mais rock'n'roll em "Série Noire" usa um thriller com grande tradição "hard-boiled". Com tom mais duro, "Black Series", a famosa coleção de Gallimard, entra em uma nova era dourada. O número 1000 da coleção comemora com um escritor americano (Jim Thompson), e o volume de dois mil saúda um dos melhores representantes dessa "nova onda" francesa, Thierry Jonquet.

Se por algum longo tempo, graças à "série negra", o detetive não é mais sinônimo de literatura série B, a chegada no início dos anos oitenta de escritores americanos como Tony Hillerman, Harry Crews, Nick Tosches e James Crumley, faz mais uma vez de "Black Series" uma grande vitrine para os grandes romancistas da Geórgia ou Montana. No entanto, as coisas estão mudando.

Na aurora dos noventa, Patrick Raynal sucede Robert Soulat e tomou o guidão da "Série Noire". Pela primeira vez, um autor de romances de terror é o chefe da prestigiada "casa". Dividido entre o desejo de enraizar firmemente a coleção em seu passado glorioso (o grande romance americano, envolvido no período do preto e branco) e evoluir para as tendências mais atuais da literatura do século XX , o autor iniciou o "Black Series" em novas aventuras. Maurice G. Dantec surge com A Red Siren, publicado em 1993, e As raízes do Mal, dois anos mais tarde, revelando um jovem escritor com um trabalho ambicioso, muito além dos Black cânones do gênero.

O "Black Series" abre-se para o mundo, reunindo escritores da Albânia, México, Espanha, Noruega, Alemanha, Finlândia, Itália, ao lado de Chase, Hammett, Chandler ou Burnett em meio às prateleiras congestionadas da coleção.

Em 2005, o "Black Series" - agora sob a responsabilidade editorial de Aurélien Masson - adotou um formato maior, apresenta uma capa decorada com uma fotografia em preto e branco e a tipografia que evoca a obra de Picasso. Ela, portanto, faz parte do programa literário das várias coleções de Éditions Gallimard.

http://en.wikipedia.org/wiki/Série_noire
http://www.gallimard.fr/collections/serie_noire.htm

Abaixo, alguns títulos de Série Noire, de diversos escritores.