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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Os filmes de Gângsters

Os protagonistas dos filmes de gângster são personagens que prevalecem no mundo do crime onde o sucesso depende da coragem, da sagacidade e da força bruta. A narrativa desses filmes é a ascensão e queda do herói numa trama que se encerra com a sua morte, derivada da perseguição desesperada por dinheiro e poder.

Os protagonistas dos filmes de gângster são personagens que prevalecem no mundo do crime onde o sucesso depende da coragem, da sagacidade e da força bruta. A narrativa desses filmes é a ascensão e queda do herói numa trama que se encerra com a sua morte, derivada da perseguição desesperada por dinheiro e poder.



Alma do Lodo (Little Caesar, 1930)

Os filmes de gângster exerceram uma poderosa influência na produção do filme Noir. No período da Grande Depressão, o gângster era uma figura familiar, presente nas páginas de jornais que atraía a atenção devido ao dinheiro, poder, luxo e a visão da ascensão masculina num período dramático de crise econômica que inclusive afetava a formação da identidade nacional norte-americana.



Scarface, a Vergonha de uma Nação (Scarface, 1932)

O filme de gângster é parte da cinematografia dos EUA desde The Musketeers of Pig Alley, de D.W. Griffith (1912). O filme de Josef Von Sternberg, Paixão e Sangue (Underworld, 1927) que, com seus temas de alienação, paranóia, traição, vingança e morte, mais se aproxima da composição temática e estética que viria a caracterizar o film noir.



No início da década de 30, o filme de gângster atinge seu apogeu. Produções como Alma do Lodo (Little Caesar, 1930), O Inimigo Público (The Public Enemy, 1931) e Scarface, a Vergonha de uma Nação (Scarface, 1932) contribuíram para a noção de que o gângster era uma espécie de empreendedor moderno, diferente do mero criminoso, encarnando o lado sombrio do American Dream na fase mais aguda da Depressão econômica. O ambiente criminal e a iconografia a ele associada, elementos cruciais do filme noir, estabeleceram-se, então, firmemente na consciência das platéias norte-americanas.



Seu Último Refúgio (High Sierra, 1941)

O sucesso na era da Lei Seca norte-americana perdeu-se na década de 40, apesar de algumas produções de destaque como Último Refúgio (High Sierra, 1941), Fúria Sanguinária (White Heat, 1949) e O Amanhã que Não Virá (Kiss Tomorrow Goodbye, 1950).



Fúria Sanguinária (White Heat, 1949)

Os gângsteres apresentam-se em algumas circunstâncias em muitos thrillers noirs. Geralmente são proprietários de algum clube noturno como Ballin Mundson (George Macready) em Gilda (Gilda, 1946), Martinelli em Confissão (Dead Reckoning, 1947) e Whit Sterling em Fuga do Passado (Out of the Past, 1947). Na década de 50, o filme de gângster retorna uma vez mais em produções como O Império do Crime (The Big Combo, 1955) e A Bela do Bas Fond (Party Girl, 1958).




Fonte:

http://www.jorwiki.usp.br/gdnot08/index.php/Filme_de_gângster

A Lei Seca - criminalidade urbana e o poder dos Gângsters

Comentei em outros posts sobre o cenário social que deu origem ao gênero Noir, citando o Crash da Bolsa de 1929 e a Segunda Guerra Mundial, fatores que apresentam-se na temática do estilo demonstrando o clima de insegurança nas cidades, pelas condições precárias dos indivíduos que não encontram ocupação ou vivem de pequenos serviços e trambiques para sobreviver (The Third Man descreve claramente esse fato, logo no início do filme). A Segunda Guerra promove a imigração dos diretores de cinema que trazem a técnica e a temática pessimista e desiludida pelos ocorridos da Guerra. Ocorre ainda um outro fato histórico neste período que contribui com outra influência para o genero Noir e que pretendo descrever a seguir: A Lei Seca e o surgimento dos Gângsters.

Quem é que já não assistiu a um filme de O Poderoso Chefão (O Padrinho, traduzindo ao pé da letra), os clássicos protagonizados por nada menos que Marlon Brando e Al Pacino? Faço inclusive um adendo para a logo do filme, perfeita nas mãos que manipulam o marionete, como fazem os poderosos gângsters da época sobre seus "súditos" ou inimigos.



Pois é justamente sobre essas figuras lendárias mas reais, presentes em território norte-americano por volta dos anos 20 que falaremos, mostrando que o período da Lei Seca não só intensificou a situação de contrabando e atividades excusas na sociedade em crise como permitiu que grupos se fortalecessem e dominassem o poder sobre tais atividades, tornando-se ainda temas correntes que influenciaram personagens e histórias para o cinema, como no caso do Noir.

Em 1920 já haviam gangues em diversas partes dos EUA, em especial em Chicago e Nova York, controlando jogos, prostituição e extorsões.

Para acabar com os problemas sociais e salvar o país da pobreza e violência, os Estados Unidos decidiram banir as bebidas alcoólicas, julgando ser o álcool o único fator dos males que os assolavam. Em vigor de 1920 a 1933 (13 anos), A Lei Seca era uma proibição oficial contra a fabricação, varejo, transporte, importação ou exportação de bebidas alcoólicas. Segundo a 18a emenda Constitucional ou Ato de Volstead, era considerada "intoxicante" qualquer bebida que tivesse mais de 0,5% de álcool (as cervejas mais fracas têm cerca de 2%).


A justificativa a tal importância dedicada à bebida parece estar no protestantismo predominante nos Estados Unidos, que inclui a idéia do "Destino Manifesto": os americanos seriam o povo eleito por Deus para guiar o mundo. Para manter a nação no caminho certo, a sobriedade deveria ser estabelecida por decreto.

Muitos americanos porém, resolveram ignorar a Lei, buscando meios para conseguir as bebidas. Muitos iam para o Canadá em busca de bebidas, outros faziam no quintal o próprio uísque. Havia ainda quem se passasse por padre ou medico para obter litros de vinho sacramental ou de destilados medicinais (que tinham uso controlado).

Sob a Lei Seca, os apreciadores de bebidas encontravam-se nos speakeasies (speak easy), bares clandestinos, muitas vezes subterrâneos, nos quais era preciso falar baixo, para não chamar atenção.

Os gângsters vêem então um novo campo de atuação com ganhos garantidos, passando a dominar os milionários negócios com bebidas, corrompendo policiais, elegendo politicos e matando seus concorrentes.

Em Nova York, o principal mafioso era o siciliano Joseph Bonanno - apontado como a inspiração de O Poderoso Chefão de Mario Puzo, que se tornou um clássico do cinema. Dean O'Banion atuava no norte de Chicago com cerveja e uísque vindos do Canadá, enquanto Johnny Torrio contratava policiais para proteger seus interesses no sul da cidade.


Alphonse Capone foi o mais lendário gângster da história, auxiliando aos 14 anos Johnny Torrio no contrabando de bebidas em Chicago até 1925, quando Torrio se aposenta e Chicago fica nas mãos daquele que expandiu os negócios para cidades como Saint Louis e Detroit. Apesar de todos os assassinatos e outros crimes atribuídos a Capone, a sonegação de impostos é que o pôs na cadeia.



Bem, o resultado de tal lei que durou 13 anos nos EUA foi a desmoralização das autoridades e um estímulo à corrupção. Cidades como Chicago e Nova York viram a criminalidade explodir, enquanto a máfia enriquecia com o contrabando de álcool.

Havia ainda uma questão de saúde pública, pois como toda bebida era proibida, inclusive a cerveja que comparada a outras tem baixo teor alcóolico, o povo passou a consumir destilados de baixa qualidade, muitas vezes não só de gosto ruim como compostas de substâncias como alvejantes, solvente de tinta e formol. A baixa qualidade das bebidas contribuiu para que os casos de morte por cirrose nos Estados Unidos praticamente não diminuíssem durante a Lei Seca.

Mesmo com a proibição da bebida para evitar a violência, entre 1920 e 1935, as taxas de assassinato cresceram 30% nos Estados Unidos, de certa forma ignorada pela prosperidade econômica até que eclodiu o Crash da Bolsa em 29, gerando mais problemas no cenário urbano com boa parte da população desempregada.

A crise foi decisiva para que a Lei Seca acabasse. Havia rumores de que legalizar as bebidas criaria empregos, estimularia a economia e aumentaria a arrecadação de impostos. Em março de 1933, Franklin Roosevelt pediu ao Congresso que legalizasse a cerveja.

Buscando um resultado sobre a Lei Seca vemos que esta mudou os hábitos da população quanto ao tipo de bebida consumida sem parar com o consumo, além de fazer da máfia e os gângsters lendas que são revividas em diversos filmes e o conhecemos mesmo nos dias de hoje.

"Nós tendemos a romancear homens como Al Capone e seus contemporâneos, mas eles eram tão violentos quanto os traficantes de drogas de hoje", afirma a jornalista inglesa Lauren Carter, autora de Os Gângsteres mais Perversos da História.

Com o Crash da Bolsa e o término da Lei Seca, houve um aumento de conflitos entre as gangues que buscavam manter seus territórios de domínio. A nova era na máfia abandonou as rixas pessoais e a influência de poder local, para se infiltrar nos cargos públicos e em redes de crime muito mais amplas. Com mais estudo, essa nova geração estabelecia vínculo com juízes, policiais e procuradores de Justiça, garantindo cada vez mais seu poder de influência entre as elites econômicas dos Estados Unidos.

Veremos no próximo post como a máfia ou os gângsters influenciaram filmes do gênero Noir, citando alguns exemplos a respeito.

Fontes:
Revista Aventuras na História (Ed. Abril)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_seca

http://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/mafia-norte-americana.htm