Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
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terça-feira, 26 de abril de 2011

EUA: E assim surgiu a História em Quadrinhos... - Parte II

Continuando nosso comentário sobre a história dos quadrinhos, seguiremos pela década de 50, período que marca a chamada Caça aos HQs, onde o psiquiatra Frederic Wertham escreve A Sedução do Inocente, responsabilizando os quadrinhos de corrupção e delinquência juvenis, citando a Mulher Maravilha com ideias sadomasoquistas e a homossexualidade entre Batman & Robin.




Criou-se o Código de Ética para controlar as publicações dos HQs, fato que levou ao encerramento dos títulos de terror da EC Comics, restando apenas a revista Mad (por sinal, bem diferente da MAD que conhecemos nos dias de hoje).





Surgem os chamados quadrinhos filosóficos com Charlie Brown e Snoopy, de Charles Ml Schulz. Trata-se da era intelectual dos quadrinhos, onde houve maior valorização do texto sobre as imagens.



A década de 60 é conhecida como a Era de Prata das HQs, e houve uma renovação do mundo dos heróis, surgindo o novo Flash da DC Comics, Superman, Wonder Woman (Mulher Maravilha), Batman, entre outros.




Em 1961, a Marvel Comics lança novos heróis à altura da Liga da Justiça da América, surgindo o Fantastic Four (Quarteto Fantástico), por Jack Kirby e Stan Lee, um grupo mais familiar que adquire super-poderes após um acidente cósmico. Representam ainda os 4 elementos da natureza e referen-se ao momento histórico da Guerra Fria e a paranóia anticomunista.


1961 marca ainda o Auge da Guerra Fria com a chegada do soviético Yuri Gagarin ao espaço, gerando a corrida espacial.

O Quarteto Fantástico passa a representar a nova era espacial em que estão dispostos a arriscar tudo para estar adiante da ameaça vermelha.

A década de 70 marca a chegada dos Quadrinhos underground tendo como principais desenhistas Robert Crumb, Gilbert Shelton (Freak Brothers), entre outros.



Em 74, os franceses Moebius, Philipe Druillet, Jean Pierre Dionnet e Bernard Farkas, criam a Métal Hurlant, que em 77 chega aos EUA como Heavy Metal, com temas relacionados a ficção ciêntífica, psicodelismo, rock’n’roll, sexo e corpos nus.


Na década de 80 surgem as HQs adultas chamadas de Graphic novels, e o Cavaleiro das Trevas Batman, sombrio, amargurado e violento é o grande protagonista criado por Frank Miller.


É um tempo marcado pela violência, insanidade e dúvidas existenciais presente nos quadrinhos, trazendo os personagens Elektra Assassina (Frank Miller), o denso e pessimista Watchmen (David Gibbons e Alan Moore), e o senhos dos sonhos Sandman (Neil Gaiman), entre outros.



Mas porque nos anos 80 os quadrinhos, comunicação de massa que parece refletir a situação social em todo os períodos, ganhou essa imagem sombria e pessimista, com questionamentos existenciais a respeito da vida?

Dentre outras pesquisas feitas sobre o período, creio que o resumo encontrado no blog de Mabu Mabe nos mostre uma visão bem clara a respeito:

O acirramento entre capitalismo e comunismo recrudesce, a queda do muro de Berlim reforça este significado. Porém, não se trata de um entendimento, mas da derrocada do comunismo que não conseguiu construir a utopia de uma sociedade igualitária, sem castas privilegiadas nem indivíduos excluídos. O culto ao corpo alcança proporções desconhecidas até então, as academias de ginástica lotam e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida aterroriza homens, mulheres e homossexuais de todas as idades no mundo inteiro. Os homens exibem altos topetes à custa de muito gel, e as mulheres carregam no blush para dar às bochechas o visual de vivacidade requerido pela geração saúde...O fim da idade industrial é também o início da idade da informação que populariza os computadores pessoais, walkmans e videocassetes.” (http://www.mabe.com.br/cronologia/decada-de-80).

Há que mencionar ainda, sobre os EUA, que houve um período de instabilidade econômica, devido a ineficácia em responder a novos concorrentes que surgiam no mercado internacional, fator econômico que parece contribuir para o retorno das incertezas e inseguranças, tal como nos anos do Crash da Bolsa.

A década de 90 chega com as tecnologias que permitem a colorização dos HQs por computador e surge ainda uma grande influência dos Mangás sobre os traços nas produções dos quadrinhos.


Após o ataque terrorista do 11 de setembro de 2011, ocorre um resgate dos quadrinhos da década de 80, ou ainda, em um curto período e com os novos acontecimentos que trazem à tona mais um período de terror e insegurança, os quadrinhos retomam o clima sombrio e violento.

Muitos desses personagens, tanto nos EUA como em outros países receberam adaptações no cinema, como Spider Man, Superman, Batman, Daredevil, Fantastic Four, entre outros. Muitas adaptações e porque não, apropriações das histórias em quadrinhos para o cinema demonstra as inlfluências que as artes tem entre si, transitando entre os gêneros e estilos, além de retratar a cada momento as vivências e ansiedades do ser humano, propagando cada vez mais esse tão apreciado meio de comunicação de massa que não só entretém mas nos levam ainda a refletir sobre o mundo em que vivemos.



As adaptações dos quadrinhos para o cinema - Batman (The Dark Night) e Spider Man.

Referências:
MCCLOUD, Scott - Desvendando os quadrinhos - 1995;
SALEM, Rodrigo, Resgate - A evolução dos quadrinhos sob a análise do historiador - 1995.
ADORNO, Theodor W. - Comunicação e Indústria Cultural - 1978

segunda-feira, 25 de abril de 2011

EUA: E assim surgiu a História em Quadrinhos... - Parte I

Venho escrevendo sobre cinema Noir, com foco especial para as produções do EUA - salvo alguns deslizes, percorrendo produções de alguns poucos países - mencionando em dado momento sobre a apropriação do gênero nos belos e interessantes quadrinhos Marvel Noir.

Provavelmente devido a tal menção é que a coordenadora do curso da pós - lembrando que este blog surgiu do tema da pós que, em breve, finalmente irei defender na banca dos réus que intencionam formar-se como pós-graduados e levar consigo o tão sonhado papel que atesta sua conclusão - questionou sobre as datas de origem dos filmes e se eram compatíveis com a época dos quadrinhos. Foi aí que não resisti e fui pesquisar a respeito, o que transcrevo bem resunidamente neste blog para informar ao leitor e satisfazer ao prazer de falar sobre outro tema que me apaixona e que mostra que caminhou em paralelo com os acontecimentos do cinema, sempre relacionados ao contexto histórico e social. Para reforçar tal afirmação, iniciaremos com o texto de Joatan Preis Dutra:

“As Histórias em Quadrinhos, como todas as formas de arte, fazem parte do contexto histórico e social que as cercam. Elas não surgem isoladas e isentas de influências. Na verdade, as ideologias e o momento político moldam, de maneira decisiva, até mesmo o mais descompromissado dos gibis.” Joatan Preis Dutra (quadrinista brasileiro).

Veremos a partir do comentário acima como as artes realmente caminham e influenciam-se pelos acontecimentos da sociedade, sendo uma comunicação de massa que inevitavelmente acaba por externalizar o momento vivido.

As Histórias em Quadrinhos ou Comics, surgiram nos Estados Unidos no início do século XX, sendo as primeiras com temáticas humorísticas, o que deu origem ao nome que perdura até hoje.

A primeira história de que se tem registros é The Yellow Kid (1896) de Richard F Outcalt, que foi ainda o criador do balão dos diálogos, utilizados até os dias de hoje.



Durante o Crash da Bolsa (1929), os Comics passam do humor para a aventura (Notem tratar-se do mesmo período onde o cinema circula entre os musicais positivistas em contraste com a sociedade em crise, surgindo a seguir o Filme B com temas policiais que levarão mais tarde ao Noir).

Os anos 30 marcam a chamada Era do Ouro das HQs, com temas como:

- Ficção científica: Flash Gordon;
- Policial: Dick Tracy;
- Aventuras na selva: Tarzan.




Nessa época, surgem outros heróis destacando-se Fantasma (The Phantom)e Mandrake, de Lee Falk e Ray Moore e Superman, de Siegel e Shuster (este surge em 33, publicado nas bancas em 38 pela DC Comics, considerado o mrco do início da Era do Ouro.




Eclode a Segunda Guerra, e com o objetivo de elevar a moral dos soldados e do povo, surgem diversos heróis como Iron Man.


Os heróis unem-se para lutar pelo país contra alemães e japoneses. A Guerra invade o imaginário social e a grande influência dos quadrinhos sobre a população faz com que o produto de comunicação de massa alimente a paranóia, unindo os fatos reais ao mundo ficcional dos quadrinhos.

Em 39 surge Namor (Prince Namor) e Tocha Humana (The Human Torch), pela Marvel Comics, personagens que representam a luta entre elementos opostos, ou fogo e água. Franklin Roosevelt, com a entrada dos EUA na Segunda Grande Guerra “convoca” os heróis como esforço bélico para lutar pelo país, devido ao grande interesse do público pelos quadrinhos revelando uma forte e persuasiva comunicação de massa.



Entre 40 e 45 houve a criação de 400 personagens, destacando-se Batman e Capitão Marvel.



O Capitão América (Captain America) surge tendo como arma apenas o escudo, representando a postura norte-americana de apenas defender-se da Guerra. O Caveira Vermelha é o inimigo do Capitão, um personagem treinado por Hitler pelos interesses do 3º Reich, reflexo que demonstra o imaginário norte-americano na época. (Notem a capa do HQ em que o Capitão América invade o refúgio de Hitler, assombrando a todos com a surpresa do ataque).


Por enquanto é isso. No próximo post, seguiremos da década de 50 até os dias de hoje.

domingo, 24 de abril de 2011

The Postman Always Rings Twice (O Destino bate à sua porta - 1981)

The Postman Always Rings Twice
122 min - 1981
Crime | Drama | Thriller
Bob Rafelson

http://www.imdb.com/title/tt0082934/

Esta é a quarta versão do romance de James M. Cain, dirigida por Bob Rafelson, considerada pela crítica como uma infeliz produção do gênero, mas que para nós, vale como comparação não só entre as produções de 46 e 81 como ainda uma reflexão sobre as diferenças da apropriação do gênero na atualidade.

A temática não foge às regras, com Frank, protagonizado por Jack Nicholson, como um andarilho "à procura de algo", frase em voz off que inicia o filme. Este aceita o emprego como mecânico em uma lanchonete de estrada que pertence a Nick, desta vez um grego que levará o filme a cenas com as tradições do país em meio ao desenrolar da atração e affair entre o personagem de Nicholson e a esposa do grego, Cora, personagem de Jessica Lane.




Algumas comparações entre os dois filmes é o forte apelo sexual, chegando às cenas brutas entre os amantes, revelando o contato corporal, ao contrário da produção anterior que apenas sugere a relação entre os personagens. Vemos ainda Nicholson como mecânico, vestido no macacão característico e as manchas de graxa que torna sua imagem mais fiel ao empregado sujo e meio vagabundo que o Frank de 46, sempre engomadinho em seus trajes limpos e bem cortados, e o cabelo impecável cheio de gel (brilhantina, como era conhecido).




A personagem Cora parece não mais tratar-se da femme fatale protagonizada por Turner, revelando as muitas tentativas de esquivar-se da forte atração que sente pelo funcionário, o que não a impede de entregar-se nem mesmo de planejar o assassinato a fim de ficar com o amante.


Ao contrário da trama chamar mais a atenção pela beleza de Laura Turner e o desenrolar dos fatos, em 81 a intensidade do sexo que levará ao desfecho fatal é o ponto de maior intensidade na produção, demonstrando a mudança de foco, numa releitura e apropriação que revela a tendência mais explícita, natural das produções da atualidade.


Vale ainda mencionar na produção de 81, a fotografia predominantemente escura, ainda que colorida, mantendo o clima tenso e paranóico que aproxima-se do gênero noir.






Cartazes - The Postman Always Rings Twice - 1981

The Postman Always Rings Twice ou O Destino bate à sua Porta na versão de 1981, com Jack Nicholson e Jassica Lane. Cartazes que demonstram a versão com enfoque sensual mais explícito e que comentaremos a seguir.




Cartazes - The Postman Always Rings Twice (1946)