Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
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sábado, 9 de julho de 2011

Reconstruction - (Reconstrução de um amor) - 2003

Reconstruction (Reconstrução de um amor)
91 min - 2003
Dinamarca
Drama | Romance
Christoffer Boe

http://www.imdb.com/title/tt0366943/



"Um homem entra em um bar. Ele vê uma bela mulher. Eles se conhecem?...É um começo ou um fim? É o que veremos."

"É tudo um filme. É tudo uma construção."

A voz off inicia o filme narrando o fato e o que está por vir, enquanto a cena se desenrola entre os personagens.

Pesquisando na internet, vi o comentário sobre o dinamarquês Reconstruction como um Noir sobre o amor. Fui checar e diria que trata-se de um romance meio dramático, com uma boa dose de paranoia em meio a muita fumaça de cigarro além de diversas e belas cenas noturnas descrevendo um encontro amoroso com uma pitada de descompasso em relação ao rapaz onde, às vezes, parece que ele já não tem certeza sobre a realidade ou o caminho a seguir.



A sinopse que encontrei a respeito:

"Fim de uma noite, Alex, de repente abandona sua namorada, Simone, para seguir a bela Aimee. Em seu encontro, hora e local dissolvem-se, tornando-se um estranho para Simone, para quem não pode retornar. O futuro de Alex é o amor de Aimée. Mas ele vai ter a coragem de assumí-la? Um drama psicológico romântico, sobre um homem, que esquece seu passado e deve colocar sua fé no amor, a fim de obter um futuro." (imdb).




Eu diria que o filme vai além disso. De fato, inicialmente tudo nos leva a crer que o personagem Alex abandona sua namorada pela bela Aimee, cego pela bela mulher (a femme fatale?) e sua paixão. Porém com o desenrolar da trama, e os acontecimentos inusitados - como quando ele retorna para casa a fim de pegar suas coisas para partir com a amada, seu apartamento parece nunca ter existido nem as pessoas que faziam parte de sua vida parecem conhecê-lo, criando um desnorteamento e vertigem que o faz perder a noção dos fatos - a segunda frase da voz off no início do filme ganha todo o sentido quanto a intenção do filme.


Aimee é casada com um escritor que está escrevendo um romance, e em certo tempo do filme realidade e ficção parece confundir-se, deixando a incerteza para o espectador se o relacionamento amoroso ocorre ou se não passa de palavras descritas e personagens surgindo de sua imaginação. Inclusive, em certa cena Aimee está a beira de separar-se do escritor por Alex, mas ainda assim um rastro de dúvida paira no ar pelas cenas que seguem.


Certo é dizer que as cenas são belas, o jogo de palavras entre os amantes como se não se conhecessem mas que então resulta em um encontro em que se entregam à paixão é muito bem trabalhado, e a paranoia desconcertante quanto a realidade ou imaginação do rapaz tornam filme interessante e atrativo.

Mesmo a questão entre a namorada Simone e Aimee, vemos que a personagem é a mesma atriz em 2 versões, o que nos remete ainda a pensar se não se trata de uma paranoia na cabeça de Alex que busca por uma mulher com características diferentes ainda que não seja capaz de manter nenhuma delas por muito tempo perto de si.

De noir podemos encontrar vestígios pela introdução em voz off, as cenas noturnas em bares cheios de fumaça que remetem à sedução entre os amantes, e a fase da paranoia que desconcerta personagem e espectador.

Recomendo assistirem pela qualidade do filme cheio de símbolos que nos remetem a situações e sensações inesperadas da vida, tal como a cena em que os amantes veem-se pela primeira vez no metrô e um "malabarista" de cigarro parece fazê-lo levitar trazendo-o depois de volta à boca. De repente estamos no controle, de repente somos levados pelos acontecimentos, talvez seja essa uma das intenções do filme.

Encontrei na Wikipedia informações que falam sobre a intenção do filme pelo diretor Christoffer Boe, que disse que "o filme foi inspirado pela fotografia de Jacques-Henri Lartigue de uma mulher que estava em uma sala com estantes vazias. "Olhando para essa imagem, eu imediatamente senti que eu queria fazer uma história sobre um homem que chega em casa e seu apartamento desapareceu. E eu sabia que tinha que ser uma história de amor".

Christoffer parece ainda enfatizar o enredo artificial e construído pelo não uso de celulares ou tecnologia atual, ainda que os fatos ocorram nos tempos de hoje.

O filme parece tratar-se de um experimento inspirado em uma obra, que resultou em uma interessante e com pitadas encantadoras de diversão cinematografica. O drama intensifica-se a cada momento, e ao final parece terminar como um fato corrente em nossos dias, sem grandes danos para quaisquer dos personagens.



Reconstruction - (Reconstrução de um amor) - 2003

Belos cartazes retratando o amor entre os amantes, o primeiro em especial nos remete ao clima noir mais que todos.






Shutter Island (Ilha do Medo) - 2010

Shutter Island (Ilha do Medo)
138 min - 2010
USA
Drama | Mystery | Thriller
Martin Scorsese

http://www.imdb.com/title/tt1130884/


Este triller de Scorcese, que logo nos faz pensar quanto a um novo experimento do diretor, pois diferencia-se de projetos anteriores, envolve mistério e uma dose de "terror" psicológico, apresentando uma história de suspense com um final inesperado.



Da neblina surge a balsa que traz o detetive Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e seu parceiro à Ilha do Medo. Estamos em 1954 (o auge da Guerra Fria) e Teddy é enviado à um hospital psiquiátrico em uma ilha para investigar o misterioso desaparecimento de uma paciente do quarto 69 (vale lembrar, o hospital encontra-se em uma ilha isolada, onde somente o Hospital possui estrutura em meio a uma região cercada pelo mar e rochas, e onde diabos essa paciente poderia ter se metido?).



Ao longo das investigações percebemos que há algo mais que um simples desaparecimento, como
a recusa do hospital em permitir o acesso a registros quando das primeiras pistas que Teddy tenciona seguir para desvendar o caso. Teddy começa a temer um complô no hospital, questionando os tratamentos dos pacientes e até se o isolamento do lugar não o condiciona a uma espécie de prisão de onde não se pode escapar.




Mas o mistério não para por aí. Teddy é um homem assombrado pela morte da esposa Dolores, e no desenrolar paranoico dos fatos ele tem flashs de lembranças que o atormentam, intensificando ainda mais o suspense, levando-o em certos momentos a quase identificar-se com a condição de enlouquecimento, tal como os pacientes do local.



Os detetives encontram-se envolvidos numa atmosfera misteriosa sugerindo que nada é o que parece… Um furacão aproxima-se da ilha, e à medida que a tempestade aumenta a intensidade, as suspeitas e os mistérios multiplicam-se, cada um mais terrível e tenebroso que o anterior. Há indicações e rumores de conspirações sombrias, experiências médicas questionáveis, alas secretas, controle mental e inclusive de algo sobrenatural. Movendo-se nas sombras do hospital, assombrado pelo clima instável e suspeito, Teddy começa a perceber que a investigação pode levá-lo ao confronto com profundos e devastadores medos que carrega, além da suspeita de que poderá não sair vivo daquela ilha.

O filme apresenta uma sucessão de novos personagens surgindo com novos fatos, sequências de diálogos que remetem aos dos filmes B, confundido o espectador e o emaranhando na trama, intensificando a tensão até o desfecho final, doses da técnica e experiência acumulada do famoso diretor.

Em relação ao Noir, podemos identificar o detetive com a já conhecida vestimenta do chapéu e longo casaco, o mistério obscurecido em meio a neblina a ser desvendado e cenas de suspense na quase escuridão que vai intensificando a paranoia, ponto que nos faz lembrar a terceira fase do estilo Noir, tal qual Paul Schrader classifica o gênero (leia post a respeito, intitulado "As três fases do Noir, segundo Paul Shrader").

Confesso que não morri de amores pelo filme, mas não deixa de oferecer um bom suspense, um jogo de câmera e acontecimentos que atordoam e nos faz querer acompanhar até o fim para descobrir o que está por trás de todo mistério que compõe a trama.







As três fases do Noir - Paul Shrader

O cineasta e crítico de cinema Paul Schrader, divide a evolução da estética Noir em três fases (Cinema Noir - Korodi), enfatizando a presença do anti-herói, protagonista da trama Noir:


1a. (1941/1946) detetive particular, mulher fatal, diálogos cortantes e inteligentes - inspiração na literatura policial de Raymond Chandler, Dashiel Hammett e James M. Cain.

Filmes: O Falcão Maltês (The Maltese Falcon, 1941, de John Huston), O Destino bate à sua porta (The postman always rings twice, 1946, de Tay Garnett), Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944, de Billy Wilder). 


2a. (1945/1949) - período pós-guerra - ênfase ao crime das ruas, à corrupção e às rotinas policiais - Hérois menos românticos e o realismo relacionado ao sentimento de desilusão do pós-guerra.

Filmes: Brutalidade (Brute force, 1947, de Jules Dasin), Assassinos (The killers, 1946, de Robert Siodmak) e Amarga Esperança (They live by night, 1949, de Nicholas Ray).
 12

3a. (1949/1953) - paranoia, o impulso suicida e a ação psicológica - O desespero e a desintegração do herói chegam ao ápice e o assassino psicopata torna-se o protagonista.

Filmes: Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard,1950, de Billy Wilder), Os Corruptos (The Big Heat, 1953, de Fritz Lang) e Mortalmente Perigosa (Gun Crazy, 1950, de Joseph H. Lewis).

Cartazes Shutter Island - Ilha do Medo (2010)

Poucas versões, mas com o ar sombrio do Triller de Scorcese.





domingo, 3 de julho de 2011

Os 10 melhores detetives no filme clássico noir

http://blogs.westword.com/showandtell/2011/07/ten_best_noir_detectives.php?page=2

O Denver Westword Blogs faz uma seleção dos melhores detetives do cinema noir, com o objetivo de fazer uma espécie de triagem devido ao predomínio da figura do detetive como o persnagem mais lembrado nos filmes do gênero. Para tanto, decidiram homenagear o estilo focando o período clássico, mesmo que a maioria dos protagonista não sejam todos detetives, mas "agentes de repressão às drogas, jornalistas ou apenas caras pegos em lugares ruins".

O Denver Westword cita personagens como os conhecidos Miguel Vargas de Touch of Evil, Sam Spade de The Maltese Falcon, e segue com outros nomes como Dave Bannion (The Big Heat), Mr. Wilson (The Stranger), Lt. Dan Muldoon do incrível Naked City, entre outros.

Todos com seleções de trechos dos filmes via YouTube, é um passeio interessante para quem aprecia o personagem e quer relembrar algumas memoráveis atuações de alguns dos melhores atores que brilharam com o gênero.