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sábado, 16 de abril de 2011

Metropolis (Fritz Lang - 1927)

Metropolis (1927)
153 min - Sci-Fi - (USA)
Fritz Lang

http://www.imdb.com/title/tt0017136/


Hoje, após alguns dias distante devido a um problema ainda não descoberto entre meu computador e o blog, testei vias diferentes da entrada normal pelo endereço original e cá estou para escrever sobre mais uma obra-prima, ou melhor, a grande obra a meu ver, do expressionismo alemão.

Estamos falando nada menos que Metropolis, mais uma vez de nosso já conhecido e citado Fritz Lang. Metropolis seria uma das 6 grandes obras de sua fase expressionista, considerados grandes expoentes do estilo.

Metropolis, século XXI. No Jardim dos Prazeres vivem os filhos dos abastados, desfrutando do melhor, distante da realidade externa que sustenta tal utopia, onde operários vivem em regime de escravidão, trabalhando abaixo da superfície, na Cidade dos Operários.



Freder, filho do fundador de Metropolis, ainda desfrutando do Jardim dos Prazeres, sente-se confuso após conhecer Maria, uma espécie de líder espiritual dos operários, que cuida dos filhos dos escravos e prega a não violência diante dos maus tratos. Nesse momento, Freder percebe que há algo além da realidade que lhe é apresentada e vai constatar por si mesmo a dura realidade, ficando horrorizado com a condição dos trabalhadores que por horas a fio mantém as máquinas em constante movimento, para manter a cidade em pleno funcionamento.


Essa passagem fez-me lembrar da versão romanceada mas com alguns detalhes interessantes do filme sobre o Buda (um filme em que Keanu Reaves protagoniza o personagem), que era um príncipe vivendo numa espécie de Eden construído pelo pai a fim de que este desfrutasse de todos os prazeres sem deparar-se com a realidade, e só quando este resolve fugir do palácio e enxergar de perto como vive o seu povo é que tornar-se-á um homem consciente da realidade da vida, tomando um rumo definido por sua escolha.

Em paralelo, para resolver a questão do cansaço humano que dificulta o funcionamento constante da máquina urbana, um “cientista” cria um robô supostamente infalível para substituir o contingente operário, e fica decidido que sua aparência será a de Maria pela influência que esta tem sobre seus trabalhadores.


Notem o arquétipo de Maria. Maria, que prega que um Salvador virá para salvar os pobres escravos. O nome da mãe do Salvador cristão, com toda benevolência e misericórdia pelos menos favorecidos. Mas a mulher neste filme se apresenta em diversas faces, como veremos a seguir.

O robô é uma mulher sedutora entre a burguesia e surge entre os trabalhadores para gerar a discórdia, com um discurso que incita a vingança e a violência, enquanto Maria é mantida aprisionada pelo cientista.



Vemos então a mulher bondosa, uma espécie de "femme fatale" traiçoeira e malígna - retrato que mais tarde representará a mulher no Noir mas aqui revela ainda o sentido nocivo da máquina preparada em mãos ambiciosas como a do cientista que promove algo para destruir o humano, substituindo-o.

Metropolis demonstra uma preocupação crítica com a mecanização industrial urbana, questionando a importância do sentimento humano, perdido no processo. Como pano de fundo, a valorização da tecnologia e a arquitetura. A cena inicial da troca de turno dos operários, onde estes entram juntos de cabeça baixa, e em um plano geral vê-se as grandes colunas e paredes muito amplas, estas parecem dominá-los e consumí-los. O movimento das engrenagens filmadas em closes fechados, intensificam a velocidade e a força que a máquina representa.





O final remete à conclusão de que "O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!"  e se concretiza no simbólico aperto de mão mediado por Freder entre Grot (líder dos trabalhadores) e Jon Fredersen - o empresário.

Metrópolis impressiona e angustia desde as cenas iniciais, onde os operários alinham-se em fila para a troca do turno. São autômatos, sem vida ou identidade própria, com suas vestes idênticas e a desesperança expressa em suas faces. É um mundo vazio, encoberto pela falta de ar e luz natural e envolvido pela fumaça das máquinas.


Predominam as cenas de forte expressão visual - característica do expressionismo - como a panorâmica da cidade com os seus veículos voadores e passagens suspensas. Alusões bíblicas, mistério, ação e romance, completam o leque que envolve o público e o mantém em suspense até ao final.

A fotografia é densa e dramática, intensificada pelo alto contraste, junto a trilha sonora que colabora para envolver o espectador no drama dos personagens.

Relutei muito antes de escrever sobre este filme, que considero o maior clássico do expressionismo que tive o prazer de conhecer. A obra é de uma força e fala por si, e qualquer palavra não a descreve em todo o seu merecimento.

Recomendo que assistam ao filme e vejam mais um clássico que o mestre Fritz Lang nos deixou, tema muito atual para refletir sobre a sociedade em que vivemos e os rumos que seguimos sem descanso.

No YouTube pode-se encontrar o filme na íntegra, ainda que dividido em partes, disponível para assistir no site.

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