Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
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sábado, 23 de abril de 2011

Cartazes - Lady in the Lake

Cartazes de Lady in the Lake, com uma variedade de pontos de vista visuais interessantes, como o "I want you" do tio Sam, os olhos que acompanharão e supostamente auxiliarão a desvendar o enigma, e ao final, um cartaz em preto e branco, enfatizando em detalhes a participação do espectador.









A dama do lago (Lady in the Lake - 1947)

Lady in the Lake (1947)
105 min - USA
Crime | Film-Noir | Mystery
Robert Montgomery

http://www.imdb.com/title/tt0039545/



Robert Montgomery, um ator de Hollywood, inicia seus experimentos como diretor a partir de A dama do lago, filme que possui uma série de características do Noir, mas sua característica principal está em extrapolar o uso da câmera subjetiva, onde os olhos do protagonista que percorrem as cenas identifica-se com o do espectador. O recurso é explorado na maior parte do filme, o que fez com que a crítica descrevesse o fato como uma repetição que leva ao tédio, o que não lhe permitiu grande bilheteria.

O público porém, considera uma obra-prima, tanto pelo uso da técnica da narrativa em primeira pessoa e o percurso pelos olhos do detetive, quanto pelo roteiro cheio de nuances, reviravoltas e perigos que promovem uma dinâmica interessante ao filme.


Anos 40. O detetive Phillipe Marlowe (Robert Montgomery) inicia o filme limpando sua arma, voltando-se para a câmera para conversar com o espectador. O personagem de Marlowe é o detetive criado pelo escritor Raymond Chandler - o filme baseia-se na história do famoso autor de romances policiais. Marlowe segue explicando sobre sua profissão e sobre as manchetes dos jornais sobre o "caso da dama do lago", uma investigação que está envolvido e com a qual convida o espectador a acompanhar a narrativa.

O flashback toma conta do filme, e o espectador a partir de então verá os acontecimentos tal qual visto por Marlowe.

Marlowe escreve um romance policial baseado em suas experiências, a fim de ganhar algum dinheiro. Após o envio para uma editora, a secretária Adrienne entra em contato mas para contratar seus serviços para descobrir sobre a suposta fuga da esposa do editor Kingsby, que parte para o México e ainda estaria envolvida em um assassinato.


Adrienne envolve-se amorosamente com Marlowe mas percebe-se que suas intenções são envolvê-lo numa trama que a beneficie. Adrienne seria a femme fatale, manipulando os personagens a fim de favorecer suas verdadeiras intenções.



Todo o filme segue em câmera subjetiva. Robert Montgomery só e visto em alguns momentos, particularmente quando apresenta e encerra o caso. Durante o desenrolar da história, só se ouve sua voz ou se vê suas mãos, por exemplo. Alguns ângulos de câmera revelam o reflexo de Marlowe por meio de um espelho. Outras vezes, a câmera sobe ou inclina-se para baixo, sugerindo a queda do personagem. Enquanto dirige um carro em uma perseguição, seu reflexo aparece ainda no retrovisor para acompanhar o perseguidor. As cenas lembraram muito o longo desenrolar em Dark Passage (já postado neste blog) com Humphrey Bogart, só o revelando após a cirurgia plástica que lhe confere a face do ator.


A técnica em primeira pessoa permitiu cenas incríveis como na sequência em que Marlowe está sendo perseguido em seu carro, e também quando ele arrasta-se por todo o cascalho em direção a um telefone público.



Em Lady in the Lake, a constância da câmera subjetiva aumenta o suspense, a paranóia e a desorientação - características do filme noir. Cada cena parece ainda um interrogatório, onde o espectador olha diretamente para quem está falando sozinho diante da câmera.

A dama do lago possui personagens intrigantes, tem uma estética muito bem dirigida, mantendo características estilísticas e narrativas do noir com certa propriedade.

Finalizando, é interessante mencionar, e vocês acompanharão pelo post dos cartazes, que a publicidade em torno do filme sempre relaciona que o espectador junto a Marlowe desvendarão juntos o assassinato: "You and Robert Montgomery solve a murder mystery together!".

domingo, 17 de abril de 2011

Cartazes - You Only Live Once





You Only Live Once (Só se vive uma vez - 1937)


You Only Live Once (1937)
86 min - USA
Crime | Drama | Film-Noir
Fritz Lang

http://www.imdb.com/title/tt0029808/

Logo após escrever sobre Sombras do Mal, em que o foco temático está nos seres que sobrevivem a custa de trapaças, pois ao que parece, é o que lhes resta como saída ou já acostumaram-se a situação, acabo de assistir a mais um trabalho de Fritz Lang que mostra um tema semelhante, desta vez a respeito de um ex-presidiário que mesmo tentando mudar suas condições de vida, as portas parecem sempre fechar-se ao ponto de não haver saída para sua regeneração.

Taylor (Henry Fonda) é um ex-presidiário que já passou 3 vezes pela prisão e um retorno representa o caminho para a cadeira elétrica.

Ao cumprir seu tempo de clausura, sai acompanhado da apaixonada Jo, uma secretária de um advogado de defesa que a ajuda a libertar o namorado. Jo é a única que acredita na inocência de Taylor e que a vida sempre pregou-lhe peças que o impedem de ter uma vida decente.


Ocorre porém que mesmo saindo da prisão com emprego e tornando-se um homem casado e com novos compromissos, os fatos voltam-se contra ele quando de um assalto a banco que a culpa lhe é atribuída, levando-o de volta à prisão, à beira de ser morto, mesmo alegando ser inocente.





Ao conseguir fugir com a ajuda de Jo, estes veem-se fugindo constantemente, vivendo na penúria e sendo procurados por toda parte. O final é trágico, porém é como se fosse a única redenção e possibilidade de liberdade para Taylor.


Fritz Lang dirigiu um filme que questiona a falta de condições para muitos que vivem à margem da sociedade e como o preconceito e a não disposição no auxílio de oferecer uma segunda chance impede qualquer esperança, mesmo que haja boas intenções.



A fotografia é impressionante em muitas passagens, como a abertura na prisão, com uma filmagem em câmera baixa avoluma os grandes muros que "cercam" os prisioneiros muito abaixo destes. Lembrou cenas de Metropolis com toda a força do complexo de grandes paredes, acuando o humano.
A imagem mais acima de Taylor na cela onde as luzes atravessam as grades projetamdo-se no chão, domina toda a cena. Lembra-me a cena em Sin City de Hartigan na solitária e ainda enfatiza o alto contraste presente na técnica corrente do Noir.


You Only Live Once é um filme com final fatal mas a fatalidade como esperança ou meio de algo que não há por onde escapar.

Night and City (Sombras do Mal, 1950)

Night and the City (1950)
101 min - Inglaterra
Crime | Film-Noir | Sport
Jules Dassin

http://www.imdb.com/title/tt0042788/


Contrariando uma vez mais o objetivo do blog em relacionar filmes norte-americanos, venho falar do notável e indispensável Night and City de Jules Dassin, mas vocês verão ao longo da explicação porque o grande diretor produziu filmou fora de solo norte-americano, mas creiam, a genialidade do profissional e a essência do Noir estão presentes nesta obra.

“Sombras do Mal” (Night and the City, Inglaterra, 1950) foi o primeiro filme de Jules Dassin fora dos Estados Unidos, devido à pressão de Joseph McCarthy quanto a supostos comunistas em Hollywood que este deveria delatar. Dassin decide ir para a Europa de onde não mais retornou.

Night and City inicia com uma curta narração em off: “A noite e a cidade. A cidade é Londres. A noite, é qualquer noite.”

O protagonista é Harry Fabian, um traficante com planos ambiciosos que nunca funcionam. Um dia, ele tenta sua última chance no submundo da luta livre e prepara um plano que acredita, o fará alcançar sua independência financeira, alterando os resultados das lutas para ganhar altas somas nas apostas. O casal Phil e Helen participam dos negócios, fornecendo o dinheiro. Mas seus planos não surtem o efeito desejado, levando-o a uma série de situações perigosas.



O enredo de Night and City ocorre no submundo do crime nas cidades. Os personagens não passam de trambiqueiros que lutam para sobreviver, com boêmia e tendo constantes problemas com a polícia.

O filme é muito realista, mesmo porque Dassin gostava de filmar em locações reais, o que dava um aspecto sujo às cenas, além do predomínio de cenas noturnas e iluminação baixa, bem ao estilo noir.

Apesar disso, o filme não possui boa parte dos clichês do estilo. Não há detetives, femme fatale ou assassinatos, o que faz com que alguns críticos o chamem de Seminoir, porém a grande maioria o considera um clássico Noir por excelência. Há apenas gente comum que lança-se a todo tipo de oportunidade para sobreviver, tal como o protagonista com roupas alinhadas mas sempre com aparência desarrumada, sobrevivendo de pequenos golpes no submundo de Londres.

Fabian inicia o filme correndo de homens que o perseguem e continuará fugindo até o final, onde mesmo encurralado e sem saída, ainda arrastará para a ruína vários personagens, incluindo a mulher que o ama.

Mary é a mulher que o ama, quer que Fabian cresça e torne-se um homem descente mas cede aos sonhos e fornece-lhe dinheiro mesmo não mais acreditando que para este há solução, e chega ao ponto de pedir favor ao vizinho visivelmente interessado por ela o dinheiro para a nova grande ideia do golpista.


“Cai fora!”, grita um dono de bar para Fabian;
“Este é um local público”, retruca Fabian, mas eis a seguir a ameaça sarcástica: “O necrotério também é!”.


A queda do ambicioso e trapaceiro Fabian é filmada com o abuso de câmeras baixas, ângulos oblíquos e muitas sombras para enfatizar o ambiente pessimista e opressivo, repleto de paredes em ruínas e figurinos puídos, que reforçam o realismo. Os diálogos são extremamente cínicos, os ângulos fechados no rosto quase febril de Fabian demonstram a angústia entre a escuridão e os becos que parecem consumí-lo.

Intensamente pessimista, passando do quase cômico ao violento, caminhando para o dramático-existencialista, - marca de Dassin como em outras de suas grandes obras - este filme é o retrato da ambição cega, da auto-decepção e sonhos destruídos, com queda e final trágico como já esperado em todo o desenrolar da trama.



Considero, como a maioria dos críticos e espectadores, um Noir clássico. Ainda que dispense os clichês padrões do Noir, creio que trata-se de um filme que mostra mais uma vez o comportamento humano diante das dificuldades e como escolhe os caminhos para sua sobrevivência. Vale lembrar ainda a voz off que inicia o filme, a fotografia constrastada noturna com a cosntante aparição dos luminosos por boa parte da cidade, e ainda a câmera baixa, detalhes que justificam a classificação com o estilo.

Mais uma vez, não encontrei meios de aplicar aqui os vídeos para que vocês apreciem alguns trechos do filme. De qualquer forma, você encontra algumas passagens no YouTube, e deixo alguns links mais relevantes. E claro, recomendo assistir ao filme por inteiro e aproveitar cada detalhe de mais este Noir.

Trailer:

http://www.youtube.com/watch?v=kTQw_tNGA7Q&feature=related

Abertura do filme:

http://www.youtube.com/watch?v=yGRz4DmByPA

A violenta e angustiante luta entre os boxeadores:

http://www.youtube.com/watch?v=8bmhuNRzPKQ&feature=related