Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O filme noir e o cinema da época: cenário de grandes contrastes


Fila de norte-americanos para a sopa do governo na época da Grande Depressão.

Para entender melhor porque o Noir seria uma resposta à condição social da Segunda Guerra e pós-guerra, é interessante analisar a posição do cinema desde o início até surgir o gênero em questão.

Encontramos nos primeiros anos do cinema (1890 a 1900) o preconceito quanto ao entretenimento de massa onde os atores temiam manchar sua reputação ao participar dessas produções e a burguesia só cria interesse na década de 30 quando o cinema torna-se o maior entretenimento público, passando a tratar-se de um meio de encontro social.

A sociedade americana depara-se com o crash da bolsa de 29, diminuindo as condições da população e consequente aumento da criminalidade urbana.

Hollywood encontra-se em sua era dourada e parece não sofrer com a situação vigente. Por meio dos glamourosos musicais, beneficiados pela nova técnica de som e o Star System que seleciona atores e lhes atribui nomes e comportamentos diante da sociedade, mantém o clima de otimismo e o sonho americano em contraste com as dificuldades econômicas e sociais em que vive a América.



Fred Astaire e Ginger Rogers

É nesse contexto que o filme B destaca-se como opção para as sessões duplas que a indústria cinematográfica oferece para atrair o retorno do público às salas de cinema, além de tratar-se de produções de baixo orçamento que permitia a profissionais da área possuir maior liberdade para experimentar estilos e técnicas.

A partir do Filme B surgem as produções mais tarde reconhecidas e denominadas Filme Noir. Com temática realista e baseada nos romances policiais, personagens ambíguos e individualistas, por meio de luz e sombras que caracteriza a fotografia, o filme Noir torna-se uma alternativa para abordar temas que questionam o way of life americano com criatividade e ousadia.

Mas afinal, o que é o Noir?


Ray Milland em Farrapo Humano (The Lost Weekend, 1945, direção Billy Wilder)

“Não faço apenas um tipo de filmes e não tenho noção de padrões. Não temos noção de que ‘Este filme será este gênero’. Tentamos fazer um filme que entretenha o melhor possível. Se temos algum tipo de estilo, os mais perspicazes detectá-lo-ão.” (Billy Wilder).

Seguindo a ideia de levantar questões que gerem o debate, iniciaremos sobre o que seria o Noir - estilo, escola, movimento?? - uma vez que o termo não surgiu dos profissionais de cinema (estes não tinham então ideia de que faziam um gênero específico) nem os críticos tinham um consenso para atribuir-lhe um conceito. A crítica francesa é quem aplica a expressão filme noir (negro ou escuro) para um grupo de filmes criminais americanos produzidos a partir da década de 40.

A. C. Mattos em seu livro O Outro Lado da Noite (já mencionado em post anterior) acredita que por constituir-se de diversos gêneros, não pode ser aprisionado a uma definição correndo o risco de descaracterizá-lo, sendo "um desvio ou evolução dentro do vasto campo do gênero drama criminal e resposta das condições durante a Segunda Guerra e pós-guerra. É ainda vírus e doença da alma, “com um clima de pessimismo em que as neuroses, paranóia e loucura permeiam as ações dos personagens, e onde não existe espaço para o Herói tradicional.”

O que parece comum nas análises sobre o noir é a desilusão latente numa sociedade sem esperanças no futuro e o vejo como uma forma de filmar com a temática que demonstra a alma adoecida da sociedade por meio de seus personagens.

E para você, o que é o Noir?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A moda da década de 40

Estudando sobre o noir, há sempre a descrição do detetive vestindo um longo casaco e chapéu, como se as produções noir estabelecessem tal vestimenta para o protagonista. Foi aí que comecei a pesquisa da vestimenta da década de 40 e encontrei o site da fotógrafa Rebecca Lepkoff (http://www.rebeccalepkoff.com/1940gallery2.html) que confirma minha impressão de que, sendo o noir uma produção de baixo orçamento, baseado entre outras coisas no realismo, nada mais óbvio que vestir seus personagens com roupas da época. Vejam inclusive que a New York de 40 tem aquela névoa presente no noir e ainda os grandes espaços urbanos pouco povoados, detalhes muito propícios para o clima do gênero.



Cartazes - The Third Man

E para completar o comentário sobre o filme, vejam os diversos cartazes produzidos.
Reparem o clima das ruas de Viena e no cartaz em vermelho, o design na diagonal que
registra a constância da câmera neste posicionamento.






The Third Man (O terceiro homem)

(Third Man, The, 1949)
• Direção: Carol Reed
• Roteiro: Graham Greene (história / roteiro)
• Gênero: Policial/Suspense
• Origem: Reino Unido
• Duração: 104 minutos

IMDb: http://www.imdb.com/title/tt0041959/

A ideia inicial do blog é falar do noir americano - o que nem iniciei até o momento - mas creio que o cinema é algo que nos faz enveredar por vários caminhos e hoje me vejo com vontade de compartilhar com você, caro visitante, de um comentário sobre o filme de origem inglesa que assisti ontem. The Third Man é simplesmente fantástico. De 1949, direção de Carol Reed e filmado na Viena após a Segunda Guerra, inicia apresentando um panorama da glamourosa Viena destruída e em plena crise, com boa parte da população vivendo das transações no mercado negro.

A trama desenrola-se com a chegada de um escritor americano que chega falido para trabalhar com seu amigo Harry Lime (Orson Welles), mas descobre que este foi morto misteriosamente e inicia uma investigação descobrindo várias inconsistências nas explicações dos amigos de Harry.

É sem dúvida uma obra-prima do cinema noir, com uma fotografia espetacular, em especial as tomadas das ruas de Viena ou mesmo a perseguição nos esgotos. A voz em off descreve a situação em um ritmo acelerado, semelhante ao clima intenso do desenrolar do filme. A câmera apresenta-se muitas vezes na diagonal, colocando o espectador no desequilíbrio da situação. A trama é muito bem construída e mesmo o tema inicial que parece desconexo do que vemos geralmente nos filmes do gênero, parece identificar-se com a trapaça da trama e o personagem de Harry Lime.

Abaixo, alguns vídeos que selecionei para quem quer ter uma idea do filme, mas se você gosta mesmo de noir, alugue ou baixe o filme e experimente esta maravilha do cinema desde o início, sem perder a chance da surpresa. Espero que apreciem tanto quanto eu.