Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Laura - 1944

Laura - 1944
88 min - EUA
Crime | Noir | Mistério
Diretor: Otto Preminger
Elenco: Gene Tierney, Dana Andrews, Clifton Webb e Vincent Price



A imagem de uma bela mulher está acima de uma lareira em uma sala de estar de um sofisticado apartamento em Nova York. Com seu vestido preto, a refinada mulher seduz a todos que olham para a pintura, entre sombras que escondem o mistério de seus encantos e seu assasinato a desvendar.

Laura, baseado no romance de 1943 de Vera Caspary, gira em torno da morte da bela jovem de 22 anos em seu apartamento, com um tiro de espingarda no rosto. 

O detetive Mark McPherson - típico detetiva hard-boiled dos anos 40 - é o responsável pela investigação, recolhento informações sobre a vítima e relacionando supostos suspeitos, como o crítico jornalístico e promotor da imagem de Laura, Waldo Lydecher (este inclusive que com a voz over professa as palavras "Nunca vou esquecer o fim de semana em que Laura morreu"), o noivo Shelby Carpenter (Vincent Price) e a tia de Laura, Anne Treadwell.


Com o passar das investigações, vemos que McPherson forma a imagem da vítima pelo testemunho de seus amigos e a leitura de suas cartas e diário, - a história é constantemente contada em flashbacks durante as entrevistas - levando-o a uma obssessão por sua imagem, envolvendo-se como que apaixonado por ela - Lydecker percebe o fato e chama sua atenção em dado momento dizendo: "É melhor tomar cuidado, McPherson, ou você vai acabar em um hospital psiquiátrico. Eu não acho que eles já tiveram um paciente que se apaixonou por um cadáver. " 


Uma noite, achando não ter provas suficientes por meio das entrevistas e buscando mais detalhes no ambiente do apartamento e nas cartas, adormece em frente ao retrato, e desperta com um som que o leva em seguida a ver de fato a personagem. A partir daí, uma grande reviravolta mudará o rumo dos fatos e acontecimentos.


Evitando dar mais detalhes contando os melhores passos desse primoroso filme, vemos que o script é o que o impulsiona, com seu enredo intrigante entre belo e assustador, atribuindo-lhe um ritmo que instiga o espectador. 

Os personagens são complexos e interessantes, com performances perfeitas, destacando o personagem Waldo de Clifton Webb como o colunista de jornal que acredita ser perfeito para ela ao ponto de preservá-la de contatos com outros homens que poderiam ser danosos a sua imagem. Atentem para suas falas, como logo no início em que Laura lhe pede uma caneta e este responde: "Eu não uso uma caneta. Escrevo com uma pena de ganso mergulhada em veneno."


Laura é considerado um clássico do cinema e um dos melhores do cinema noir, abrigando várias características do gênero além do enfoque sobre a obssessão das relações humanas, com uma técnica brilhante e um visível cuidado a detalhes visuais apresentados por Otto Preminger. 

Essa obssessão é visível entre todos os personagens em torno da imagem de Laura, e ocorre gradativa e visivelmente com o detetive, que parece não conseguir separar a investigação do mundo real, levando-o a desconfiar de todos e isolar-se para desvendar o mistério. Como em transe, vê-se fascinado pela imagem do quadro, que parece perseguí-lo, o que em seguida tornar-se-á real fazendo-o transitar do desejo platônico para o real.

Entre sombras e fumaça - em geral em ambientes fechados dos apartamentos - Otto mantém o clima de dúvida e ameaça em toda a trama, envolto em diálogos constantes que compõe a narrativa. 

Sem dúvida, é uma grande obra, indicada e premiada como um dos melhores do gênero. Em 1999, foi selecionado para preservação nos Estados Unidos pela National Film Registry, pela Biblioteca do Congresso como sendo "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativas". Tem ainda a 73a classificação pelo American Film Institute dos 100 melhores thrilles e melhor filme no gênero mistério.

Recomendo que assistam pois trata-se de uma obra muito bela e bem produzida, fazendo jus à ascensão de Otto Preminger como diretor.
 
Para finalizar ambientando o post com o clima do filme, deixo o vídeo com a música tema.

Imagens Laura, de Otto Preminger - 1944

A fotografia de Laura é para mim impressionante. Não me canso de ver as ambientações e os enfoques dos personagens que Otto Preminger brilhantemente trabalha em cada cena. 


Encontramos diversos elementos do noir em cada tomada, do claro-escuro bem contrastado, as vestimentas da época, neste caso cheio de glamour e cuidado aos detalhes, as sombras que contribuem para o mistério ainda não desvendado, a luz que foca o personagem destacando-o na cena ou impasse de uma suposta confissão, a fumaça e as silhuetas que compõem o cenário.


Esse deleite faz-me lembrar algumas reflexões sobre o Noir, como segue:


"...amamos o estilo noir, ao mesmo tempo romântico e pessimista, que nos faz simpatizar, talvez até mesmo nos identificar com o anti-herói condenado, a ansiedade e sentimento de alienação que nos são desconfortavelmente familiares...Alan Woolfolk sustenta que o anti-herói noir vivem em um mundo desencantado, que "não é tão benigna", e que ele não pode escapar totalmente, nem abraçar plenamente."


"[O que era surpreendente ...] nestes primeiros filmes noirs foi o grau em que eles foram contra a corrente de que o otimismo de raça nativa parecia definir o caráter americano. Se tomarmos uma extensa histórica neste caráter americano, podemos detectar um lado escuro implícito nele, desde os primórdios, que antecedeu aqueles atributos da alardeada auto-suficiência e a empresa individual associada a "engenhosidade ianque"...
(Robert Porfirio, "The Philosophy of Film Noir")


Apreciem algumas imagens reunidas abaixo da obra de Preminger:













Cartazes Laura - 1944

Sou amante confessa dessas artes que os cartazes nos proporcionam. O colorido, uma imagem expressiva que destaca o personagem ou mesmo a tipografia que circunda os protagonistas, salientando-os entre os demais. Coisa de designer, concordo, e creio que serei uma eterna apaixonada dessas mentes e mãos engenhosas que conseguem soluções diversas para um só tema e passam a informação breve despertando em belas formas a atenção do espectador.










quinta-feira, 10 de novembro de 2011

The Best of Hard-boiled/Noir Books



Para quem aprecia as produções cinematográficas e quer conhecer os títulos que inspiraram diversos e inesquecíveis momentos do Noir nas telas, vai a dica de alguns títulos que a Amazon reuniu sob o título The Best of Hard-boiled/Noir Books, com nomes consagrados como Raymond Chandler e Dashiell Hammett, entre outros que representam o auge da literatura do estilo.

São mais de 20 títulos, a preços a partir de pouco mais de $10.

Interessados, acessem: http://www.amazon.com/Best-Hard-boiled-Noir-Books/lm/R21J6GDCFBUSBK


Akashic Books Noir Series


A Editora Akashic Books, de Nova York (http://www.akashicbooks.com/noirseries.htm), apresenta uma série com diversos títulos com nomes de cidades de várias partes do mundo com antologias noir. Como explica o próprio site:

"Após o sucesso impressionante do premiado best-seller BrooklynNoir no verão de 2004, a Akashic Books lança uma série inovadora de antologias noirCada livro é composto de histórias ambientadas em bairros distintos ou localização dentro de determinada cidade."

Os títulos são em sua maioria de bairros norte-americanos, encontrando ainda histórias do noir em locais como Havana, Istambul, Seattle, entre outros.

Você pode adquirir os exemplares no próprio site ou na Amazon, que possui alguns títulos da lista.

Fontes:

http://www.akashicbooks.com/noirseries.htm

http://www.amazon.com/dp/1933354232/ref=rdr_ext_tmb

terça-feira, 8 de novembro de 2011

The Killer is Loose - 1956

The Killer is Loose - 1956
73 min - EUA
Crime | Filme Noir | Drama
Diretor: Budd Boetticher
Atores: Joseph Cotten, Rhonda Fleming e Wendell Corey


http://www.imdb.com/title/tt0049405/

Como disse nos posts anteriores em que apresentava os cartazes e mesmo o vídeo no YouTube para que todos pudessem apreciar o filme, não conhecia até então nenhum trabalho dirigido por Budd Boetticher e posso dizer que gostei bastante do resultado de The Killer is Loose.



Um banco é roubado e em seguida, um grampo telefônico faz com que a polícia identifique Leon Pole como o culpado e vão em direção ao quarto de hotel em que se encontra para capturá-lo. O detetive Sam Wagner, em uma troca de tiros, mata a esposa de Pole - segundo ele, a mulher desconhecia o assalto ocorrido -  e este vai em seguida a julgamento, sendo considerado culpado e levado à prisão, conhecendo ainda no tribunal a esposa de Wagner, mantendo sua imagem gravada na memória.


Sua conduta de bom comportamento mantém um bom relacionamento com os policiais, o que facilita sua fuga em dado momento, e seu único objetivo é vingar-se pela morte da esposa tirando do detetive o mesmo que lhe foi tirado.
Wagner resolve levar sua esposa a casa da irmã de forma a mantê-la em segurança enquanto retorna a sua casa e mantém diversos policiais observando as ruas, certo de que Pole surgirá para cumprir sua vingança.


Mas Lila Wagner é a mulher que teme pela vida do marido, não aceita estar em segurança quando o amado pode estar em perigo, e volta para casa para ver como as coisas estão.


E o final fatal noir concretiza-se, onde não há espaço para criminosos nas mãos astutas de hábeis policiais.

Eu diria que neste filme encontramos detalhes da chamada Era do Ouro do Cinema, com predomínio dos musicais e ainda, a fase em que vemos as residências muito arrumadas com o conforto sugerido da época e suas mulheres muito bem cuidadas e inteiramente dedicadas ao lar e a família, detalhes muito presentes em boa parte da trama. 

O Noir apresenta-se em alguns pontos nesta junção com o estilo citado, havendo um assalto e assassinato, o empenho policial em apanhar o criminoso e sua presença constante após a fuga do criminoso. O detetive principal não faz o tipo casca-grossa como na maioria das vezes, é o homem bem casado e muito bem apresentável que parece comandar com perspicácia as investigações policiais.


Há cenas de ambientes fechados com a luz atravessando as persianas, sombras bem marcadas em especial quando da tentativa de captura do assaltante.


O ambiente externo não está situado nas grandes cidades como habitualmente o noir se utiliza como pano de fundo, mas neste caso predominam as ruas mais residenciais e em alguns momentos quase rurais e pouco habitadas.


Concluindo, os atores tem uma boa presença no filme, em especial Wendell Corey no papel do criminoso que em dado momento, expressa uma nítida paranóia e obssessão, talvez gerada pela perda da esposa, deixando-o cego em busca de vingança. 


Na visão de críticos de cinema, Bruce Eder considera Budd Boetticher "um cineasta de habilidade consumada e muitas surpresas,...The Killer is Loose só aumenta sua reputação, independente do gênero." Levando um elenco convencional para um cenário naturalista, tem como resultado uma série de performances prendendo um roteiro repleto de improbabilidades, e a narrativa com a direção de Boetticher supera o script considerado um pouco pesado.


Dennis Schwartz escreve: "Um típico noir 1950, distingue-se pelo seu roteiro em ritmo rápido e tenso, que se aprofunda, principalmente sobre o caráter do vilão-fazendo-o por ser alguém que não podia assumir ser ridicularizado como um fracasso, não mais ... A atmosfera suburbana e o estilo nonsense de contar a história adiciona suavidade... e suspense que vem com o clímax. O resultado é um filme...de nostalgia dos anos 1950 que evoca, numa época em que era mais receptivo para noir funcionar tão bem como ele faz ".
(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Killer_Is_Loose).

domingo, 6 de novembro de 2011

Vídeo do YouTube - The Killer is Loose - 1956

E para quem quer assistir ao filme, segue o vídeo na íntegra de The Killer is Loose.


Na descrição sobre o filme: 


"Um desequilibrado assaltante de bancos enganosamente bem-educado escapada da prisão, em busca de vingança sobre o policial que, acidentalmente, matou sua esposa."


Cartazes - The Killer is Loose - 1956

Nosso próximo Noir-pipoca, do diretor - que ainda não conheço - Budd Boetticher, já inspirou-se pelas interessantes artes dos cartazes, quer na diagramação, as cores vibrantes e mesmo algumas cenas que mostram o ambiente e seus personagens. Vejamos nossas impressões após assistir ao filme. :D