Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
Participe para saber mais e envie a sua colaboração. Após análise, publico com crédito do experimentador.


sábado, 12 de março de 2011

D.O.A. (Com as horas contadas - 1950)

D.O.A. (1950)
83 min - EUA
Drama | Film-Noir | Mistério
Rudolph Maté

Olá, caro leitor. Após um tempo ausente e, contrariando o padrão de escrever sobre um filme e então apresentar os cartazes da obra, volto para falar do filme Com as horas contadas, de curta duração para nossos padrões atuais mas intrigante e dinâmico, permitindo uma experiência de qualidade do gênero que temos como tema neste blog.

Eis que o contador Frank Bigelow, um californiano que resolve tirar uns dias de folga em San Francisco, ao aproveitar a noite em um clube de jazz com um grupo que conhece no hotel onde encontra-se hospedado, tem sua bebida trocada contendo uma "toxina luminosa" e veneno fatal.

Ciente da morte iminente, sai em uma busca alucinada por desvendar o enigma de seu envenenamento e a morte de um empresário morto logo após a tentativa de contatá-lo.



O filme possui amplas cenas nas ruas de San Francisco e Los Angeles. O clima tenso intensifica-se a cada descoberta do protagonista, além da ansiedade constante pelo tempo de vida que se esvai. Cenas noturnas e diurnas estão presentes neste filme, não diminuindo o suspense da trama, e a violência é outro elemento frequente, demonstrando que Bigelow está cada vez mais perto em descobrir os fatos.





Todos os acontecimentos são descritos em flashback, pois Frank inicia em um departamento de polícia onde descreve seu assassinato. Atenção desde a aparição dos letreiros junto a sequência onde Frank Bigelow segue pelos corredores até a sala do oficial que o ouvirá até o momento fatal. A tensão apresenta-se desde então.

Vale lembrar que entre os arquétipos presentes no Noir (o perseguido, a femme fatale e o que procura a verdade), Bigelow representa o terceiro arquétipo, pois em momento algum busca ajuda mas aproveita o tempo que lhe resta para descobrir a verdade. Ele é o homem comum que desenganado dos médicos, não volta correndo para os braços da noiva Paula que o espera na Califórnia ou decide aproveitar seus últimos momentos em algo desejável. Ele busca freneticamente cada detalhe e o que o levou a um destino fatal.

Para quem quer saber o que significa a sigla D.O.A., nome do filme original, segundo a Wikipedia, trata-se do carimbo sobre o dossiê do caso, encerrado devido à morte da testemunha. Seria algo como "morto ao chegar", e ao que parece, o caso será arquivado como se não houvesse algo a ser investigado.

Não encontrei o filme em lugar algum a não ser na íntegra no YouTube, como segue abaixo. Mais um momento pipoca incrível pra você aproveitar. Bom filme.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Cartazes - Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard - 1950)

Este é um dos posts com cartazes os mais variados e de alguns países diferentes.
O interessante é o design que mostra acima de tudo o aprisionamento, em especial
por meio do filme atado em um nó que retrata Norma Desmond em seu aprisionamento no passado. A protagonista aparece ainda sempre um plano acima dos demais atores, demonstrando a obscessão e ameaça que a mesma representa. Lembrou-me o cartaz e algumas cenas de Attack of the 50FT. Woman, a posição da mulher rejeitada que não aceita a situação e destrói aquele que a abandona.










Sunset Boulevard - análise do filme

Uma análise detalhada e muito interessante sobre a filmagem de Crepúsculo dos Deuses.
Por Ed Sikov, que analisa o trabalho de Billy Wilder, Nancy Olson e o crítico de cinema Andrew Sarris. Em inglês.





Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard)



Crepúsculo dos Deuses
Sunset Boulevard, 1950
EUA
110 minutos
Billy Wilder

Um corpo masculino boiando na piscina de uma mansão na Sunset Boulevard inicia Crepúsculo dos Deuses, contando em retrospectiva a trama deste filme que fala dedecadência, obscessão e loucura.

Norma Desmond (Glória Swanson), ex-estrela de filmes mudos, vive solitária com seu fiel empregado em uma mansão na Sunset Boulevard. Quando conhece um fracassado roteirista - Joe Gilis - decide mostrar-lhe o roteiro de Salomé que pretende atuar no papel principal sob direção de Cecil B. DeMille. Este aceita o trabalho mas vê-se preso ao local e a contratante, numa situação angustiante onde a ambição e a obscessão levam a um desfecho fatal.



Além do trabalho magnífico de arte, da música que intensifica o clima tenso que prenuncia um final fatalista, este trabalho do diretor Billy Wilder busca demonstrar o descaso de Hollywood pelas estrelas dos filmes mudos que vêem-se em decadência e sem emprego, vivendo à margem dos áureos anos em que eram aclamados pelos estúdios e os fãs.



Norma é a imagem da atriz egocêntrica que não aceita o fim da carreira e acredita em sua retomada com um novo sucesso, mas a sequência de rejeições culminam na loucura e permanência no passado glamouroso, na cena final dirigida brilhantemente por Wilder.

No YouTube, o filme está dividido em 8 partes e você poderá assistir na íntegra.

Revista Universitária - Filme Noir

http://www.ufscar.br/rua/site/?p=3358

Link interessante da Rua, Revista Universitária de Audiovisual com matéria sobre o Filme Noir.
Abrange vários detalhes sobre as características do gênero, além de diretores, atores e atrizes de destaque, como os pares Fred MacMurray e Barbara Stanwyck (Double Indemnity) e Glenn Ford e Rita Hayworth (Gilda).



domingo, 6 de março de 2011

Experimento: Locução

Uma das características marcantes no filme noir é a chamada voz off, que muitas vezes inicia ou permanece em todo o filme com a narrativa sobre a sequência dos fatos, sendo o protagonista muitas vezes quem fala com o espectador.

Baseado no texto do diretor de fotografia John Alton - publicado no blog com o título Filme Noir como experimentação - surgiu a ideia de escrever um texto e o amigo e profissional de audiovisual Emerson Cavalieri cedeu gentilmente a voz para um exercício de locução na voz off.
Ouçam o resultado:




Aqui, o texto na íntegra, escrito no metrô e baseado em minha experiência no processo de construção do trabalho final de pós-graduação.

Descobri que o experimento, sem a espera de algo definitivo e perfeito, nos permite o exercício de ideias para em algum momento gerar algo interessante, tal como os profissionais que prezaram pela liberdade no exercício das técnicas e estilos tendo como resultado nada menos que o Noir.



16 de janeiro. Desperto de sobressalto. O relógio marca 4 da madrugada.
Um suor frio corre pela nuca e os pensamentos invadem a mente, desconexos,
atormentados.

Viro-me para o lado tentando relaxar, mas em vão. Os projetos inacabados e a incerteza
do sucesso tiram-me o sossego.

Ah, maldito inverno de 2009, naquela manhã em que meus olhos percorreram aquela
página na internet e encheu-me da pretensa esperança de entender os filósofos ou os
caminhos do design. O impulso deu de ombros à voz em minha mente prenunciando
um futuro sem esperanças.....

Porém minhas divagações cessam ao som cortante de uma porta se abrindo, gelando-me os ossos.
Ouço passos em minha direção. Mantenho-me imóvel, estarrecido pelo medo.

Uma sombra se avoluma, iluminada pelas frestas da janela do quarto ao lado.
Deixo escapar quase um gemido, aguardando petrificado o perigo iminente.

“Tive sede. Fique tranquilo, volte a dormir”, diz minha esposa retornando da cozinha,
com seu perfume que até então não pude sentir.