Continuando nosso comentário sobre a história dos quadrinhos, seguiremos pela década de 50, período que marca a chamada Caça aos HQs, onde o psiquiatra Frederic Wertham escreve A Sedução do Inocente, responsabilizando os quadrinhos de corrupção e delinquência juvenis, citando a Mulher Maravilha com ideias sadomasoquistas e a homossexualidade entre Batman & Robin.
Criou-se o Código de Ética para controlar as publicações dos HQs, fato que levou ao encerramento dos títulos de terror da EC Comics, restando apenas a revista Mad (por sinal, bem diferente da MAD que conhecemos nos dias de hoje).
Surgem os chamados quadrinhos filosóficos com Charlie Brown e Snoopy, de Charles Ml Schulz. Trata-se da era intelectual dos quadrinhos, onde houve maior valorização do texto sobre as imagens.
A década de 60 é conhecida como a Era de Prata das HQs, e houve uma renovação do mundo dos heróis, surgindo o novo Flash da DC Comics, Superman, Wonder Woman (Mulher Maravilha), Batman, entre outros.
Em 1961, a Marvel Comics lança novos heróis à altura da Liga da Justiça da América, surgindo o Fantastic Four (Quarteto Fantástico), por Jack Kirby e Stan Lee, um grupo mais familiar que adquire super-poderes após um acidente cósmico. Representam ainda os 4 elementos da natureza e referen-se ao momento histórico da Guerra Fria e a paranóia anticomunista.
1961 marca ainda o Auge da Guerra Fria com a chegada do soviético Yuri Gagarin ao espaço, gerando a corrida espacial.
O Quarteto Fantástico passa a representar a nova era espacial em que estão dispostos a arriscar tudo para estar adiante da ameaça vermelha.
A década de 70 marca a chegada dos Quadrinhos underground tendo como principais desenhistas Robert Crumb, Gilbert Shelton (Freak Brothers), entre outros.
Em 74, os franceses Moebius, Philipe Druillet, Jean Pierre Dionnet e Bernard Farkas, criam a Métal Hurlant, que em 77 chega aos EUA como Heavy Metal, com temas relacionados a ficção ciêntífica, psicodelismo, rock’n’roll, sexo e corpos nus.
Na década de 80 surgem as HQs adultas chamadas de Graphic novels, e o Cavaleiro das Trevas Batman, sombrio, amargurado e violento é o grande protagonista criado por Frank Miller.
É um tempo marcado pela violência, insanidade e dúvidas existenciais presente nos quadrinhos, trazendo os personagens Elektra Assassina (Frank Miller), o denso e pessimista Watchmen (David Gibbons e Alan Moore), e o senhos dos sonhos Sandman (Neil Gaiman), entre outros.
Mas porque nos anos 80 os quadrinhos, comunicação de massa que parece refletir a situação social em todo os períodos, ganhou essa imagem sombria e pessimista, com questionamentos existenciais a respeito da vida?
Dentre outras pesquisas feitas sobre o período, creio que o resumo encontrado no blog de Mabu Mabe nos mostre uma visão bem clara a respeito:
“O acirramento entre capitalismo e comunismo recrudesce, a queda do muro de Berlim reforça este significado. Porém, não se trata de um entendimento, mas da derrocada do comunismo que não conseguiu construir a utopia de uma sociedade igualitária, sem castas privilegiadas nem indivíduos excluídos. O culto ao corpo alcança proporções desconhecidas até então, as academias de ginástica lotam e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida aterroriza homens, mulheres e homossexuais de todas as idades no mundo inteiro. Os homens exibem altos topetes à custa de muito gel, e as mulheres carregam no blush para dar às bochechas o visual de vivacidade requerido pela geração saúde...O fim da idade industrial é também o início da idade da informação que populariza os computadores pessoais, walkmans e videocassetes.” (http://www.mabe.com.br/cronologia/decada-de-80).
Há que mencionar ainda, sobre os EUA, que houve um período de instabilidade econômica, devido a ineficácia em responder a novos concorrentes que surgiam no mercado internacional, fator econômico que parece contribuir para o retorno das incertezas e inseguranças, tal como nos anos do Crash da Bolsa.
A década de 90 chega com as tecnologias que permitem a colorização dos HQs por computador e surge ainda uma grande influência dos Mangás sobre os traços nas produções dos quadrinhos.
Após o ataque terrorista do 11 de setembro de 2011, ocorre um resgate dos quadrinhos da década de 80, ou ainda, em um curto período e com os novos acontecimentos que trazem à tona mais um período de terror e insegurança, os quadrinhos retomam o clima sombrio e violento.
Muitos desses personagens, tanto nos EUA como em outros países receberam adaptações no cinema, como Spider Man, Superman, Batman, Daredevil, Fantastic Four, entre outros. Muitas adaptações e porque não, apropriações das histórias em quadrinhos para o cinema demonstra as inlfluências que as artes tem entre si, transitando entre os gêneros e estilos, além de retratar a cada momento as vivências e ansiedades do ser humano, propagando cada vez mais esse tão apreciado meio de comunicação de massa que não só entretém mas nos levam ainda a refletir sobre o mundo em que vivemos.
As adaptações dos quadrinhos para o cinema - Batman (The Dark Night) e Spider Man.
Referências:
MCCLOUD, Scott - Desvendando os quadrinhos - 1995;
SALEM, Rodrigo, Resgate - A evolução dos quadrinhos sob a análise do historiador - 1995.
ADORNO, Theodor W. - Comunicação e Indústria Cultural - 1978
Nenhum comentário:
Postar um comentário