Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
Participe para saber mais e envie a sua colaboração. Após análise, publico com crédito do experimentador.


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Drunken Angel (1948) - O Anjo Embriagado, de Akira Kurosawa

Drunken Angel (1948) - O Anjo Embriagado
Yoidore tenshi (título original)
USA - 98 min
Crime | Drama | Thriller
Akira Kurosawa


Sinopse - Depois de uma batalha com criminosos rivais, um gângster é tratado por
um médico alcoólatra no Japão pós-guerra. O médico diagnostica tuberculose no jovem gangster, e faz de tudo para convencê-lo a tratar-se. Os dois desfrutam de uma amizade inquieta, até que o ex-chefe do gângster é libertado da prisão e procura assumir sua gangue, mais uma vez. O jovem doente perde seu status de chefe de gangue e torna-se condenado ao ostracismo, e, finalmente, enfrenta seu ex-chefe em uma batalha até a morte.


Um lago podre e lamacento, fermentando os dejetos depositados em seu leito pela sociedade que habita ao seu redor. É assim que inicia Drunken Angel, refletindo a podridão e degradação de uma vila no pós-guerra, subjulgada ao poder de uma gangue da Yakusa.

Este foi um filme que encontrei na internet citado como Noir, e o que poderiamos ver como semelhança com o gênero é a degradação humana, tanto do médico aparentemente falido e sempre embriagado como o jovem gângster da Yakuza sempre irritado e pronto para a violência mas nitidamente perdido e assustado com a doença que contraíra.

O cenário é deprimente, como uma vila ou região de casebres à volta de um rio podre e lamacento.

Há momentos hilários no filme, como os encontros violentos entre o médico e o paciente, que em geral terminam em socos e brigas pela tentativa em vão do médico tentar recuperar a saúde do teimoso rapaz.


Kurosawa parece ter buscado mesclar a cultura oriental com os salões de música e dança dos anos 30, que alegravam os endinheirados grupos de gângsters. Há uma cena que parece ter seu ritmo acelerado, onde uma cantora entoa uma cantiga primitiva e todos dançam em ritmo frenético.


Há uma cena bem expressionista, sobre o sonho do jovem em uma praia encontrando seu caixão. A expressão assustada e pálida lembra-nos cenas dos clássicos do gênero. E desde então, a aparência pálida e cada vez mais cadavérica do jovem remete-os à lembrança do estilo.


Em uma trágica cena final de violência e morte, o jovem gângster tem sua vida encerrada, todo pintado de branco pela poeira e tinta fresca por onde passou, como se nesse momento tivesse obtido a redenção. E toda a cena acontece enquanto o bom médico compra ovos frescos para seu paciente, sem imaginar o que está acontecendo naquele instante.

O filme, como não poderia deixar de ser em se tratando de Kurosawa, é cheio de simbolismos.

Sem dúvida, a degradação humana, que se reflete tanto no ambiente como na forma de vida dos personagens, é o tema principal mas Kurosawa encerra com uma ponta de esperança ao demosntrar que ainda há pessoas que prezam pela vida e a amizade, e um obstinado como o velho médico embriagado, apesar de rude em suas palavras e ações, pode sem dúvida ser comparado a um anjo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário