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domingo, 10 de abril de 2011

Kracauer - reflexões sobre o cinema e a sociedade

Título:O Ornamento da Massa
Autor:Siegfried Kracauer
Tradução:Carlos Eduardo J. Machado; Marlene Holzhausen
384 páginas
Editora Cosac Naify


"Os filmes são o espelho da sociedade..." (As pequenas balconistas vão ao cinema - pág. 311).

"Destaca-se, na produção de Kracauer, a atenção que ele dedicava à cultura de massas no momento em que ela surgia, assunto que diz respeito aos interessados em arte, comunicação, sociologia, arquitetura." (http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10138/O-ornamento-da-massa.aspx).

Mais uma recomendação de leitura sobre cinema do já mencionado Siegfried Kracauer, para os interessados em artes em geral com uma análise sobre o efeito da cultura de massa na sociedade, analisada e comentada por Kracauer de uma maneira muito distinta, em especial no que se refere ao cinema, a partir do capítulo intitulado "As pequenas balconistas vão ao cinema".

Como que criando uma cena de filme que supostamente as balconistas estariam assistindo, toma como exemplo para a conclusão quanto ao comportamento da sociedade, desenrolando os temas como a questão da ilusão e o escapismo da realidade por meio do cinema, a visão dos relacionamentos, chegando a uma análise de "estabilização ou cristalização" dos filmes e seu público, não mais apresentando surpresas.

"...é realmente a sociedade que se manifesta nos filmes sensacionalistas de sucesso. Essas reabilitações comoventes, essa generosidade impossível, esses jovens polidos e almofadinhas,...eles realmente existem? Sim, eles realmente existem...Não existe nenhum kitsch que se invente, que a própria vida não supere."

A cultura de massa seria então o material de estudo de Kracauer utiliza para relacionar com o comportamento vigente na sociedade, pois enxerga que os temas utilizados com frequência revelam a forma como esta quer ser vista.

Eu diria que em O Ornamento da Massa, Kracauer traça uma visão bem pessimista sobre o cinema, com uma crítica dura, citando determinados temas de filmes, como por exemplo os históricos que apresentam-se em sua maioria romanceados, como que anulando questões importantes que deveriam ser melhor abordadas.

Kracauer é um pensador que vê o realismo melhor que a ficção como forma de “educar” a sociedade e discutir as verdades humanas, e vê na abordagem cinematográfica fantasiosa um “mecanismo da sociedade” para refletir sua realidade, como nos mostra uma passagem em outra publicação, que cito a seguir:

“(...) Ninguém negará que, na maior parte dos filmes atuais, tudo é um tanto irrealista... Porém, não é por isso que eles deixam de refletir a sociedade. Ao contrário, quanto mais incorreta é a forma que eles mostram a superfície das coisas, mais corretos eles se tornam e mais claramente eles espelham o mecanismo secreto da sociedade ... As fantasias estúpidas e

 
irreais do cinema são devaneios da sociedade, principalmente porque os colocam em primeiro plano como de fato o são e porque, assim, dão forma a desejos que, noutras ocasiões, são reprimidos.“ (KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler. Rio de Janeiro: Zahar, 1987).


Sendo considerado o "mercado das emoções baratas" por Nicolau Sevchenko e visto como uma forma de escapismo da realidade que vai perdendo o elemento surpresa ao longo do tempo, o cinema continua sendo um interessante objeto de estudo sobre seus efeitos sobre a sociedade e o fenômeno de mesmo nos dias de hoje prosseguir atraindo multidões.

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