Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir.
Participe para saber mais e envie a sua colaboração. Após análise, publico com crédito do experimentador.


domingo, 6 de março de 2011

Experimento: Locução

Uma das características marcantes no filme noir é a chamada voz off, que muitas vezes inicia ou permanece em todo o filme com a narrativa sobre a sequência dos fatos, sendo o protagonista muitas vezes quem fala com o espectador.

Baseado no texto do diretor de fotografia John Alton - publicado no blog com o título Filme Noir como experimentação - surgiu a ideia de escrever um texto e o amigo e profissional de audiovisual Emerson Cavalieri cedeu gentilmente a voz para um exercício de locução na voz off.
Ouçam o resultado:




Aqui, o texto na íntegra, escrito no metrô e baseado em minha experiência no processo de construção do trabalho final de pós-graduação.

Descobri que o experimento, sem a espera de algo definitivo e perfeito, nos permite o exercício de ideias para em algum momento gerar algo interessante, tal como os profissionais que prezaram pela liberdade no exercício das técnicas e estilos tendo como resultado nada menos que o Noir.



16 de janeiro. Desperto de sobressalto. O relógio marca 4 da madrugada.
Um suor frio corre pela nuca e os pensamentos invadem a mente, desconexos,
atormentados.

Viro-me para o lado tentando relaxar, mas em vão. Os projetos inacabados e a incerteza
do sucesso tiram-me o sossego.

Ah, maldito inverno de 2009, naquela manhã em que meus olhos percorreram aquela
página na internet e encheu-me da pretensa esperança de entender os filósofos ou os
caminhos do design. O impulso deu de ombros à voz em minha mente prenunciando
um futuro sem esperanças.....

Porém minhas divagações cessam ao som cortante de uma porta se abrindo, gelando-me os ossos.
Ouço passos em minha direção. Mantenho-me imóvel, estarrecido pelo medo.

Uma sombra se avoluma, iluminada pelas frestas da janela do quarto ao lado.
Deixo escapar quase um gemido, aguardando petrificado o perigo iminente.

“Tive sede. Fique tranquilo, volte a dormir”, diz minha esposa retornando da cozinha,
com seu perfume que até então não pude sentir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário