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quinta-feira, 31 de março de 2011

O pastiche ou apropriação - uma análise sobre o noir na atualidade - Parte I

Pastiche ou apropriação é definido como obra literária ou artística em que se imita grosseiramente o estilo de outros escritores, pintores, músicos, etc.
Pode ser plágio com sentido pejorativo, ou é uma recorrência a um gênero. É ainda uma espécie de colagem ou montagem, tornando-se uma paródia em série ou colcha de retalhos de vários textos. Antes de tudo, é um procedimento que mescla estilos.

Pensando no Noir clássico e a tendência no contemporâneo da apropriação do estilo, pretendemos analisar o porque dessa retomada, ciente do processo pelo qual passou o gênero quando de sua retomada pela mídia e público, chegando a categoria de cult em diversos grupos.

Segundo Mauro Baptista, doutor em artes da USP, “O Noir, em sua época, não foi tão valorizado. Eram filmes que iam sendo feitos e não eram percebidos como conjunto. Nos últimos 25 anos, houve um enorme número de publicações sobre o Noir - jornalística, acadêmica, de pesquisa. Ele foi muito retomado pelo cinema moderno. O Noir tem uma fotografia excepcional, de grandes contrastes de luz e sombras. E não tem esse triunfalismo, esse final feliz, das produções classe A americanas, nem essa coisa melodramática, sentimentalóide. Isso fez com que o Noir ficasse cult.”

Diversos estudiosos analisam o pastiche ou apropriação demonstrando suas conclusões a respeito.

Para Fredric Jameson, o pastiche apropria-se das imagens e as manipula como imitação ou com fim estético ou lúdico. É forma “cega” ou “vazia”, destituída de padrões morais, sem referências claras pela fragmentação e explosão de estilos já todos criados, reduzido a “reabilitação nostálgica do passado”.

Jameson, ao falar do pastiche e a moda da nostalgia, refere-se ao cinema citando o filme Corpos Ardentes (Body Heat, 1981 - EUA) como uma remontagem do clássico Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944 - EUA), sendo “o plágio alusivo e fugidio de tramas mais antigas...uma característica do pastiche”.



Hasan e Compagnon apresentam-se mais otimistas, o primeiro encarando o pastiche como colaboração para a criação de algo novo ao evocar estilos de outras épocas e Compagnon vendo-o como o rejuvenescimento da tradição no rastreamento e conjugação de diferentes estilos.

Giorgio Agamben analisa a condição do homem contemporâneo, e considera haver um descompasso entre o homem e seu tempo, causando estranheza e incompreensão, onde o entendimento do momento vivido pede uma postura de participação e distanciamento, e não situando-se no presente, busca-se no passado referências para dar-lhe sentido.

Entendendo que o Noir clássico surgiu com uma postura de certa liberdade quanto à aplicação e experimentação das técnicas e temática realista, revelando o lado sombrio da sociedade, vemos na atualidade um ressurgimento do gênero por parte de público e crítica, inicialmente atraídos pela temática crua e qualidade técnica, talvez levados por uma identificação com boa parte das características que o constituem. No próximo post, veremos mais sobre os filmes citados, seguindo com uma conclusão pessoal mais a frente.

Referências

JAMESON, Fredric, Pós-Modernidade e Sociedade de Consumo. In “Novos Estudos CEBRAP”, nº 12, São Paulo, 1985.
HASAN,Ihab.The question of Postmodernism.Apud ROSE, 1993.
COMPAGNON, Antoine. La seconde main ou le travail de citation. Paris: Éditions du Seuil,1979.
AGAMBEN, G. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Argos. 2009.
Pastiche: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pastiche
Revista Quem (Fevereiro 2006).
http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1122610-3428,00.html

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