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domingo, 3 de abril de 2011
Sin City, a cidade do Pecado (Sin City - 2005)
Sin City
124 min - EUA
Action | Crime | Drama
Frank Miller, Robert Rodriguez, Quentin Tarantino
Nos últimos posts analisamos a apropriação na atualidade do gênero Noir, e uma das produções recentes que destaca-se entre diversas releituras do estilo é Sin City, filme baseado nos quadrinhos de Frank Miller com três histórias sobre crime e perseguição, com clima denso e pessimista, intensificado pelos efeitos tecnológicos que modernizam o estilo, classificado por alguns críticos um neo-noir.
Antes é interessante dizer que não se trata exatamente de um filme "baseado" nos quadrinhos, mas uma fiel adaptação controlada meticulosamente pelo desenhista Frank Miller, que resistiu em aceitar o filme até que estivesse plenamente seguro de não resultaria em mera releitura sem o clima e características como os quadrinhos foram concebidos. Resistências a parte, todo esse cuidado resultou em um filme muito bem estruturado, com uma fotografia impecável finamente tratada com efeitos de computação que nos dá a sensação dos quadrinhos em movimento nas telas.
Frank Miller
Sin City mostra três histórias que se cruzam, com policiais, assassinos e prostitutas vivendo situações na Cidade do Pecado.
Vemos policiais trapaceiros e o que procura a justiça e a verdade na figura de Hartigan (Bruce Willis), que coloca sua vida em risco em especial para desvendar um crime e proteger uma criança que encontra-se em perigo, nas mãos de um psicopata e filho de um senador; há personagens que buscam vingança ou redenção, como Dwight (Clive Owen) e Marv (Mickey Rourke), dois personagens que acima de tudo estão a disposição de sedutoras figuras femininas, a fim de vingá-las ou receber a consideração desejada.
Em relação a apropriação do Noir, Sin City é todo o estilo, com características marcantes na estética e temática.
A narrativa over conduz a história e, ao contrário do padrão do clássico Noir onde os personagens geralmente fazem um flashback da situação vivida, em Sin City ocorre no presente e de forma múltipla, onde as três figuras masculinas (Hartigan, Dwight e Marv) contam suas histórias e neuroses em meio a situações bizarras, envolvidos em conflitos na maioria relacionados a arriscar suas vidas para proteger e vingar suas amadas.
A fotografia contém fortes traços expressionistas com longas sombras, além do acabamento gráfico que intensifica sua origem dos quadrinhos e a fidelidade ao original. A visão parcial do quadro cria um ar de suspense e vemos ainda o recorte de certas cores, em especial o uso do vermelho, destacando elementos da cena ou caracterizando personagens.
A femme fatale expande-se em um bairro de prostituição onde mulheres sensuais e perigosas dominam o espaço e cuidam de sua proteção. Vê-se a figura masculina dominada ao invadir seu território, destruída pela tentativa de oprimí-las ou colocada à disposição, aguardando o reconhecimento de seu valor, traços da submissão à figura feminina que detém o poder.
Marv, por exemplo, é um homem bruto, frio e com sérios problemas psicológicos. Quando conhece Goldie, uma bela loira que lhe proporciona sua primeira noite de amor, aparece morta a seu lado no dia seguinte, sem que ele tivesse percebido o que aconteceu. A partir de então, Marv fará de tudo para desvendar o crime e vingar a morte de Goldie, mergulhando no submundo de corrupção e morte de Sin City, a fim de descobrir a verdade e punir os culpados.
Gosto muito da cena em que Marv está no mesmo bar onde encontra-se Dwight, e este o observando, pensa que o mesmo é apenas um bruto nascido em época errada, que este deveria ter nascido em um tempo cortando cabeças e matando sem piedade, pois é a sua natureza. Uma observação muito pertinente a personalidade do personagem e que nos lembra o pensamento de Giorgio Agamben, falando do homem contemporâneo que participa e distancia-se de seu tempo por não entendê-lo, buscando no passado referências que o definam. Aqui, Marv é um ser natural de tempos medievais, e o faz impiedoso e violento diante das muitas perseguições que sofre nestes tempos, sempre julgado como culpado.
Dwight é outro personagem masculino que espera que as damas da noite reconheçam seu valor. Com aparência de homem decidido mas com dúvidas e incertezas pairando em sua mente, pensa demonstrar a elas sua força, ainda que estas estejam sempre no comando e prontas para defender seu território, o Centro Velho em que estas oferecem todo o tipo de prazeres caso o visitante esteja disposto a pagar o alto preço.
A corrupção e o pessimismo são extremos e a violência é explícita. Não há distinção moral entre homens da lei e figuras do submundo. Todos usam da violênca para alcançar seus objetivos.
A cena preparada especialmente por Quentin Tarantino é hilária e aterradora. Sem dúvida, a marca do diretor está em todo o cinismo e tensão da cena.
Como reprodução dos quadrinhos e apropriação do Noir, Sin City obteve um resultado fascinante, trazendo consigo as principais características deste grande estilo, não só na estética como na temática.
Sou fã confessa dos quadrinhos e da produção cinematográfica dentro do clima sombrio e sem escrúpulos do noir. Para quem ainda não conhece ambas as obras, vale a pena checar e experimentar todos os elementos dessa impiedosa produção.
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