Uma das características marcantes no filme noir é a chamada voz off, que muitas vezes inicia ou permanece em todo o filme com a narrativa sobre a sequência dos fatos, sendo o protagonista muitas vezes quem fala com o espectador.
Baseado no texto do diretor de fotografia John Alton - publicado no blog com o título Filme Noir como experimentação - surgiu a ideia de escrever um texto e o amigo e profissional de audiovisual Emerson Cavalieri cedeu gentilmente a voz para um exercício de locução na voz off.
Ouçam o resultado:
Aqui, o texto na íntegra, escrito no metrô e baseado em minha experiência no processo de construção do trabalho final de pós-graduação.
Descobri que o experimento, sem a espera de algo definitivo e perfeito, nos permite o exercício de ideias para em algum momento gerar algo interessante, tal como os profissionais que prezaram pela liberdade no exercício das técnicas e estilos tendo como resultado nada menos que o Noir.
16 de janeiro. Desperto de sobressalto. O relógio marca 4 da madrugada.
Um suor frio corre pela nuca e os pensamentos invadem a mente, desconexos,
atormentados.
Viro-me para o lado tentando relaxar, mas em vão. Os projetos inacabados e a incerteza
do sucesso tiram-me o sossego.
Ah, maldito inverno de 2009, naquela manhã em que meus olhos percorreram aquela
página na internet e encheu-me da pretensa esperança de entender os filósofos ou os
caminhos do design. O impulso deu de ombros à voz em minha mente prenunciando
um futuro sem esperanças.....
Porém minhas divagações cessam ao som cortante de uma porta se abrindo, gelando-me os ossos.
Ouço passos em minha direção. Mantenho-me imóvel, estarrecido pelo medo.
Uma sombra se avoluma, iluminada pelas frestas da janela do quarto ao lado.
Deixo escapar quase um gemido, aguardando petrificado o perigo iminente.
“Tive sede. Fique tranquilo, volte a dormir”, diz minha esposa retornando da cozinha,
com seu perfume que até então não pude sentir.
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