Experimento Noir é um espaço de troca de experiências e experimentos que bebam da fonte do gênero noir. Participe para saber mais e envie a sua colaboração. Após análise, publico com crédito do experimentador.
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"...o céu ensolarado e as palmeiras ficam bem em cartões postais...mas Hollywood parecia ficar melhor com L.A. vista à noite - em preto e branco-com sombrasameaçadorasque se deslocampor um corredorescuro e umacintilaçãoda lâmpadailuminandoalgo ruim..."
O Los Angeles Time preparou uma matéria falando brevemente sobre o Noir com fotos de diversos atores, atrizes e diretores que marcaram o cinema noir. Clicando nas imagens, você terá a bibliografia de cada um desses que marcaram o estilo.
The Strange Love of Martha Ivers
(O Tempo não Apaga | O estranho amor de Martha Ivers)
116 min - USA
Drama | Filme Noir
Diretor: Lewis Millestone
Atores: Barbara Stanwych, Van Heflin, Kirk Douglas, Lizabeth Scott
http://www.imdb.com/title/tt0038988/
Roteiro de Roberto Rossein baseado no conto Love Lies Bleeding, de John Patrick.
Sinopse: Martha Ivers é casada com o promotor de justiça Walter O'Neil pela fortuna do império comercial de Iverstown. Seu passado guarda a morte acidental da tia, que a impedira de fugir com Sam Masterson, um pobretão que vivia pelas ruas. De volta à cidade, Sam encontra-se com a jovem também encrencada com a lei Toni Maracheck. Seu retorno desperta a paixão de Martha, resultando em ciúmes, chantagem, manipulação e morte.
Atores: Orson Welles, Edward G. Robinson, Loretta Young
http://www.imdb.com/title/tt0038991/
O detetive de crimes de guerra Wilson vai a Connecticut investigar o paradeiro de Franz Kindler, mentor do Holocausto que parece ter apagado sua identidade.
Meiniki, seu antigo camarada, é liberado a fim de ser a isca para o detetive encontrar o paradeiro daquele que encontra-se nos Estados Unidos com identidade falsa, porém desaparece misteriosamente, o que dificulta as intenções do detetive.
Kindler (Welles) apresenta-se como um homem de bem casado, de nome Rankin, com uma bela mulher e professor de universidade respeitado. Wilson passa a suspeitar de Rankin, porém sem Meiniki não tem provas para incriminá-lo a não ser pela esposa que o viu em uma visita a sua casa, e passa a persuadí-la a fim de convencê-la que seu marido é um criminoso, tendo sua confissão da vinda de Meiniki em sua casa, antes que a moça torne-se o novo alvo do criminoso. Wilson vale-se de projeções dos campos de concentração e as atrocidades cometidas para convencê-la em colaborar.
A bela esposa vive entre a dúvida e o amor pelo marido, até descobrir a intenção de seu assassinato, o que levará Kindler a seu final fatal.
O filme é intenso nos diálogos, as cenas em alto contraste com predomínio das sombras é uma constante e a música de fundo completa o crescente suspense. A tomada de cenas são muito bem estruturadas, o uso da câmera superior e inferior ampliam a tensão das cenas e expressões dos personagens.
Kindler mantém-se como o homem de bem que quer aparentar ser porém percebe-se uma gradativa alteração em expressões pela tensão que a aparição do detetive e possibilidade da descoberta de sua identidade seja desvendada.
Wilson é o detetive implacável, que mesmo com o desaparecimento de sua isca não cessa sua busca incansável pelo nazista. Sua única pista que ainda resta é o fascínio de Kindler por relógios antigos.
O filme foi baseado em um roteiro escrito por Victor Trivas, o que lhe deu uma indicação ao Oscar de roteiro original.
Foi ainda o primeiro filme lançado após a Segunda Guerra Mundial com filmagens reais em campos de concentração.
Orson Welles escreve, dirige e estrela este intenso, complexo e assustador clássico dos filmes noir. Ele mostra seu interesse pelo tema do fascismo e a ideia de sua erradicação e leva para as telas um episódio memorável sobre o tema. Recomendo assistirem para consistência do tema, pelas cenas meticulosamente trabalhadas e o talento de Orson Welles que a meu ver, é indiscutível.
Viena - Áustria, 05 de Dezembro de 1890 / Los Angeles, 02 de Agosto de 1976
Hoje é dia de lembrarmos do grande cineasta, realizador, argumentista e produtor Fritz Lang, ou Friedrich Anton Christian Lang.
Considerado um dos maiores nomes da escola expressionista alemã, iniciou seus primeiros escritos - em especial terror e suspense - em plena Primeira Guerra Mundial, ao ser gravemente ferido, perdendo um olho, onde aproveitou sua estada em recuperação no hospital para desenvolver textos que mais tarde o levariam ao convite de fazer filmes.
Com o fim da guerra, mudou-se para Berlim para trabalhar com o produtor Erich Pommer. Em 1919, foi lançado o filme "O Gabinete do Dr. Caligari", de Robert Wiene, cujo roteiro foi parcialmente escrito por Lang.Nos anos de 1919 e 1920, Lang lançou uma série de filmes que o tornaram conhecido, e esta é a época em que dá início ao expressionismo alemão, com uma estética que dá vazão às reações subjetivas, criadas por objetos e cenários de grande intensidade visual, explorando as distorções e o uso do preto-e-branco. Entre os títulos mais conhecidos da fase expressionista, encontramos:
Der Müde Tod (1921) - variação onírica sobre a morte e o amor, em que o exotismo se alia com a meditação sobre o sentido da vida e da morte;
Die Nibelungen (1924) - um filme sobre o fantástico mitológico, com estruturas admiravelmente equilibradas;
Metropolis (1927) - obra sobre a relação entre as máquinas e os trabalhadores nas grandes cidades, com ênfase pro sentimento de humanidade perdido no processo. Um de seus maiores trabalhos; (Este filme aliás, que se passa em 2026, estreou como o primeiro filme de ficção científica da história do cinema.).
Spione (1928) - a luta contra uma organização misteriosa e implacável;
M (1931) - uma das obras mais lendárias e um dos expoentes máximos da sua carreira.
Convidado por Hitler para fazer filmes para o Partido Nazista, fruto da admiração que lhe provocou Metrópolis, Lang nega-se e foge para Paris produzindo filmes antinazistas; em 1934, emigra para os Estados Unidos, mas inicialmente a crítica entende que este encontra-se subjugado ao sistema do cinema norte americano, produzindo filmes por demais comerciais, reconhecendo a qualidade de seu trabalho somente nos anos 50. Nesta fase é que outros títulos passam a receber importância no cenário cinematográfico:
You Only Live Once (1937) - que confere ao filme negro a dimensão das grandes tragédias e onde toma o partido dos culpados, vítimas dos erros da sociedade;
Man Hunt (1941), Hangmen Also Die (1943) e Ministry of Fear (1944) - constituem libelos anti-nazistas, onde o prazer de aniquilar se sobrepõe à instância sócio-política;
Scarlet Street e The Woman in the Window (ambos de 1945) - são, para o próprio Lang, os seus melhores filmes americanos.
Rancho Notorious (1952) e Moonfleet (1955) - retomam o exotismo aventuroso nos limites da paixão do poder.
The Big Heat (1953), While the City Sleeps e Beyond a Reasonable Doubt (ambos de 1956) - são as suas máximas reflexões sobre o destino.
Lang ainda volta para a Alemanha, faz alguns filmes e chega inclusive a atuar, e preside em 1964 o Festival de Cannes.
Particularmente, me delicio com o trabalho deste diretor. A profundidade dos temas, as cenas bem estruturadas e carregadas de significado, a direção meticulosa na fotografia, quer enfatizando as expressões ou mesmo depositando o clima carregado pelos enfoques expressionistas presentes em seus filmes, demonstra o cuidado em expressar o lado sombrio da humanidade de forma brilhante. É por isso que parabenizamos neste dia este brilhante e respeitável diretor.
Abaixo, um vídeo com entrevista de 1975 com este grande diretor e um dos maiores criadores da história do cinema.
Scarlet Street - 1945 103 min - EUA Drama | Filme Noir Diretor: Fritz Lang Atores: Edward G. Robinson, Joan Bennett, Dan Duryea
Fritz Lang sabe como ninguém conduzir uma trama, enfatizando expressões, mostrando a ingenuidade de um homem de meia idade que numa noite inesperada, vê-se enamorado de uma bela mulher, ao acreditar protegê-la de um suposto assaltante numa noite escura, não suspeitando que acaba de cair em uma cilada que transformará sua vida.
A menina mimada e inescrupulosa sem limites para atender às vontades de seu violento companheiro, é a femme fatale que irá explorar Christopher (Edward Robinson), um pintor amador e caixa de uma loja de roupas. Acreditando ser este um homem rico, é levada pelo namorado a criar um relacionamento com o homem casado porém infeliz, buscando estorquir-lhe a suposta fortuna.
Chris, cego de paixão por Kitty, aluga uma apartamento para ela vendo-o como estúdio para suas pinturas, estas roubadas e comercializadas em nome da amante sem seu conhecimento, até a descoberta de tratar-se de um sucesso nas galerias de arte.
Mas a história não terá um final feliz. Furtos, desenganos, suborno e assassinato tomam conta de Chris ao ponto de não encontrar paz, vivendo em pensamentos atormentados pelas dificuldades e a lembrança de que a amada o enganou, levando-o a caminhos nunca antes pensados.
Scarlet Street foi baseado no romance francês La Chienne, que tornou-se filme pelas mãos de Jean Renoir em 1931, classificado como drama e não um noir, como o de Lang.
Segundo o crítico Dennis Schwartz, "Scarlet Street é um noir psicológico sombrio...com tendências de um criminoso não punido por seu crime. O personagem de Robinson é o homem comum influenciado por um casal inescrupuloso que aproveita sua vulnerabilidade, levando-o a uma estrada amoral, onde, em um momento de fraqueza, perde a cabeça e comete um assassinato. Sua imaginação já não pode salvá-lo de sua existência terrível, e sua queda completa ocorre quando da perda da realidade e dignidade." (http://en.wikipedia.org/wiki/Scarlet_Street).
O filme chegou a ser proibido em Nova York em 1946, considerado amoral e sua exposição tenderia a moral corrupta ou incitar ao crime e a proibição extendeu-se por outras cidades como Milwaukee e Atlanta.
Ainda assim, o filme é denso e reúne diversas características do noir, além do notável toque expressionista que só Lang poderia trabalhar com tamanha maestria.
Mais uma vez, vemos o homem casado que enamora-se por uma bela desconhecida e cede a seus encantos, fazendo-lhe todas as vontades, passando por cima de toda conduta antes respeitada; a mulher inescrupulosa, que buscando a vida fácil, age em direção a seus objetivos e o namorado malandro e articulador, buscando às suas custas e diante das oportunidades, fazer fortuna ilicitamente.
São as fragilidades e deslizes humanos revelados em diálogos bem trabalhados e cenas muito bem estruturadas e brilhantemente dirigidas por Fritz Lang. Trata-se de um filme memorável e que certamente agradará ao apreciador de mais um incrível noir.